Curadores investigam trabalho do artista

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Por Agencia Estado
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A mostra Investigações: Trabalho de Artista, que o Itaú Cultural inaugura amanhã à noite, lida com a cada vez mais complexa relação entre artistas e curadores. Mas nesta exposição não há lugar para imposições ou leituras tortuosas. Se há uma certa dose de previsibilidade - determinada pela escolha dos nomes dos curadores que participariam da mostra -, há também espaço para o olhar subjetivo da crítica. O ponto de partida do evento foi a escolha dos curadores. Cinco críticos de destaque no cenário nacional foram convidados a investigar a obra de um ou dois artistas de sua escolha, trazendo a público não apenas sua obra acabada (aquela com a qual o público sempre tem contato), mas também o pensamento que norteia sua produção. A amizade e admiração tornou-se então um ingrediente importante nesse processo de seleção. "Sou amigo de Cildo há 30 anos e fui um dos primeiros a escrever sobre seu trabalho", explica o crítico Frederico Morais, que está investigando a obra (e a história) de Cildo Meireles. O núcleo dedicado ao artista carioca é o mais completo da exposição e pode ser comparado a uma minirretrospectiva. Isso graças ao uso de um sistema multimídia que permite ao visitante ver instalações apresentadas recentemente por Cildo em Nova York. Márcio Doctors, por sua vez, optou por mergulhar na obra de Nuno Ramos para entender os sentimentos paradoxais despertados pela obra de Nuno Ramos e estabelece uma interessante análise da obra de Ramos, tomando como paradigmas duas produções bastante distintas: a obra "triste" de Goeldi, que representaria um Brasil "mais insular e contido em si", e a criação impulsiva de Jackson Pollock. "O que Nuno deseja é aproximar-se cada vez mais da matéria e cada vez mais de si mesmo", explica Doctors, que usa os termos "estética do acidente" e "estética do vulcão" para falar desses dois movimentos. No primeiro caso inclui-se o trabalho Casco, um dos mais instigantes da mostra. O artista escolhido por Paulo Herkenhoff foi Ernesto Neto, um dos mais jovens presentes em Trabalho do Artista, mas que há 15 anos vem desenvolvendo um sólido trabalho, aliando elementos da física e da astronomia a uma exploração bastante sensual dos materiais. Lorenzo Mammì e Arlindo Machado foram um pouco mais gulosos que seus companheiros de exposição, já que decidiram investigar a obra de dois artistas. O atual diretor do Centro Maria Universitário Maria Antônia debruçou-se sobre a obra de dois ícones da arte contemporânea brasileira, que trabalham com a poesia do traço: Carmela Gross e Iole de Freitas. Em ambas, o desenho, o movimento, a escolha dos materiais e, finalmente, a confecção da obra são elementos vitais de criação. "Os dois trabalhos têm uma idéia de gesto linear, mas enquanto na obra de Iole uma coisa se desdobra na outra, na minha há uma grande fragmentação", explica Carmela. A escolha de Machado é aquela que mais se relaciona com as opções do curador, que há anos se dedica a estudar a interface entre a arte e a ciência. Nada mais adequado com esse projeto do que a escolha de Eduardo Cak, com suas experiências de cientista maluco - desta vez ele usa bactérias como instrumento de criação pictórica -, e de Carlos Fadon. Convém lembrar que esses trabalhos não resultaram apenas numa exposição e num catálogo reunindo textos e imagens. O Itaú propôs um terceiro desdobramento do projeto e convidou videomakers a realizar documentários sobre o processo de produção de cada um dos artistas. Luís Duva fez os vídeos de Carmela Gross e Carlos Fadon; Eder Santos, o de Nuno Ramos; Luís Felipe Sá é autor dos documentários sobre Cildo Meireles e Iole de Freitas; Karen Harley filmou Ernesto Neto; e Bruno Viana ficou com a obra de Eduardo Cak. Esse material será exibido durante a exposição. Caixas de Artistas - O Itaú Cultural também está inaugurando esta noite a exposição Caixas de Artistas Contemporâneos, realizada pelo Centre de Recherche et de Restauration des Musées de France. São 15 caixas concebidas por esse centro que permitem restaurar, conservar ou até mesmo remontar trabalhos conceituais de artistas contemporâneos como César e Raphael Soto. Investigações: O Trabalho do Artista. De terça a sexta, das 10 às 21 horas; sábado, domingo e feriados, das 10 às 19 horas. Itaú Cultural. Avenida Paulista, 149, tel. 238-1816. Até 24/9.

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