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Curador da Bienal de SP fala de planos e sugere olhar no futuro

Mostra está prevista para ser inaugurada em 6 de setembro

Por Camila Molina
Atualização:

“Não temos um tema, mas um título, e decidimos ir atrás de trabalhos e experiências sobre a nossa condição no mundo, de conflito”, afirma o escocês Charles Esche, curador da 31.ª Bienal de São Paulo, prevista para ser inaugurada em 6 de setembro. O cartaz da edição, com desenho do artista indiano Prabhakar Pachpute, diz em português e inglês a sentença: “Como falar de coisas que não existem” – e o verbo da frase, frisa a equipe curatorial da mostra, vai ser mudado ao longo do ano, transformando o título em algo dinâmico. “Acho que podemos dizer que a arte nos dá capacidade para a imaginação, nos permite imaginar situações, o que nos faz sentir contemporâneos”, completa Esche.

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Para a exposição brasileira, a segunda bienal mais importante do mundo – ficando atrás da “mãe” das bienais, a de Veneza –, Charles Esche indica algumas rupturas naturais, parte do que significa ser contemporâneo. A mostra, com orçamento de R$ 24 milhões, terá entre 75 e 80 projetos – e não obras específicas, já que a maioria dos artistas convidados trabalha em grupo (a lista não está fechada, mas a maior parte dos participantes será de brasileiros, diz Esche).

Não veremos também o “olhar retrospectivo” para o modernismo nesta edição. “É a primeira Bienal de São Paulo que está sendo feita depois que Niemeyer não está mais nesse planeta. E isso é simbólico. Ele morreu, como o modernismo”, afirma o escocês, que ganhou, na semana passada, o prêmio Audrey Irmas por Excelência Curatorial, do Center for Curatorial Studies do Bard College de Nova York. “Há muitos artistas na Europa, ou mesmo no Brasil, que ficam cavando os arquivos para ver se conseguem encontrar uma pequena joia, ou um fato obscuro, que mostre como o modernismo é incrível. É como dizer que não temos futuro. Sinto a arte estagnada nesse tipo de pensamento, é entediante”, afirma Esche. “Nossa vontade de fazer essa ruptura se dá porque o próprio mundo fez essa ruptura, o mundo mudou.”

A menção feita pelo curador a Oscar Niemeyer não é fortuita – a Bienal de São Paulo tem como casa o monumental edifício da década de 1950 projetado pelo arquiteto no Parque do Ibirapuera. O pavilhão da Bienal vai se transformar em “espaço para imaginação coletiva” durante o período expositivo, entre 6 de setembro e 9 de dezembro. “Pense na exposição como um espaço para se imaginar <IP9,0,0>junto, e por isso a mostra não vai se espalhar pela cidade”, diz a israelense Galit Eilat, que integra a equipe curatorial da 31.ª Bienal ao lado dos espanhóis Nuria Enguita Mayo e Pablo Lafuente e do arquiteto Oren Sagiv, que, também natural de Israel, é responsável pelo projeto arquitetônico da edição do evento.

Colapso. “A arte é apenas decoração para 1% do mundo ou outra coisa?”, pergunta Charles Esche. Autor do livro Art and Social Change: A Critical Reader (Afterall/Tate Publishing) – sobre arte e mudanças sociais –, diretor do museu Van Abbe de Eindhoven, na Holanda (do qual está afastado este ano), e curador com experiência nas Bienais de Riwaq, na Palestina, de Istambul, na Turquia, e de Gwangju, na Coréia do Sul, Esche afirma que a mostra terá artistas de várias partes do mundo, mas com menos ênfase nos dos Estados Unidos ou do Norte da Europa: “Eles já têm muitas oportunidades”. Outra característica do processo curatorial é a realização de encontros abertos com a comunidade artística de cidades como Recife, Belém, Salvador, Brasília e Belo Horizonte.

Algumas questões vêm à tona na era dos conflitos e de ondas de protestos em todo o mundo, segundo Esche. “Existe muita coletividade, colaboração hoje no mundo, é isso se dá através da internet”, explica Esche. “Nesse momento, existe um equilíbrio entre dois pensamentos: o de que nada poderá ser mudado, e igualmente, do outro lado, de que as coisas não podem continar como são, têm de mudar.”

A equipe curatorial apresentou ao Estado como exemplo de trabalho para a 31.ª Bienal o projeto do artista israelense Yochai Avrahami (1970), que vai ao Museu do Escravo, em Belo Horizonte, para iniciar sua pesquisa.

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“Um dos sintomas do momento contemporâneo é o colapso do modo de representar a democracia, sonhos e aspirações, como vimos com as pessoas indo às ruas aqui, em Istambul, ou antes em Nova York ou Madri”, diz Galit Eliat.

“Yochai está trabalhando sobre a representação e narrativas, olhando museus que são memoriais, que tratam de catástrofes e tentam apresentar o sofrimento humano, mas que são vozes de quem, afinal?”, pergunta a curadora. Já o desenho do artista Prabhakar Pachpute (1986) para o cartaz da mostra é uma torre carregada por homens em seu interior, como os trabalhadores das minas de “ouro negro” de sua região natal na Índia.

 

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