Cultura reprisa "Ensaio" com Marisa Gata Mansa

TV Cultura reprisa nesta terça-feira o programa Ensaio com a cantora Marisa Gata Mansa, morta no mês passado. O repertório revela sua intensa parte na história da música brasileira

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Por Agencia Estado
Atualização:

A TV Cultura reprisa amanhã, a partir das 22h30, o programa Ensaio com a cantora Marisa Gata Mansa. É uma homenagem à grande intérprete que morreu no início de janeiro, aos 69 anos. Gravado em 1975, o programa foi reeditado pelo diretor-entrevistador (que o espectador não vê nem ouve) Fernando Faro. O Ensaio é o melhor (e hoje praticamente o único) programa televisivo dedicado à música popular brasileira. Mas este protagonizado pela tijucana Marisa Vértulo Brandão tem um sério problema. O violonista - identificado apenas como Ruy - acompanhante da cantora que virou Gata Mansa por causa da voz em sussurro, aspirada, desconhece o repertório, erra acordes, perde o ritmo e visivelmente constrange a intérprete. Os erros do músico incomodarão o espectador de percepção sensível. Mesmo este, entretanto, encontrará prazeres nas histórias contadas por Marisa, no precioso repertório e nas interpretações que, com esforço para driblar os equívocos do acompanhante, brilham de delicadeza e sensibilidade. A fala de Marisa Gata Mansa soa quase infantil: o som, não o conteúdo. Foi mulher de vida intensa, paixões, entregas, as dores que acompanham isso. Corretíssima e fiel às convicções estéticas, consciente da qualidade do canto, evitou o que pudesse conspurcá-lo. Apresentada por João Gilberto (que a adorava) a Carlos Machado, o homem das revistas musicais, recusou o convite para cantar no cassino. Teria de usar biquíni. "Eu queria só cantar", conta, no programa. Ficou um tempo brigada com João. Cercou-se de amigos dignos, como ela: Dolores Durán, Antônio Maria, Ari Barroso, Dick Farney, Clara Nunes. Não fala, durante o Ensaio, em Nana Caymmi, que a considera a maior cantora romântica da música brasileira. Marisa pontificou nas boates. Foi crooner, ainda menor de idade, do Golden Room do Copacabana Palace, ponto mais que nobre da noite carioca. Gravou vários discos, mas fez um único grande sucesso fonográfico, ao lançar a canção Viagem, dos estreantes João de Aquino e Paulo César Pinheiro. É com Viagem que abre o programa. Fala sobre a família de gente ligada à música e da admiração por Dalva de Oliveira - e canta Segredo, de Herivelto Martins e Marino Pinto, sucesso de Dalva. Lembra o tempo de caloura (suas contemporâneas do programa Pescando Estrelas eram Alaíde Costa e Ellen de Lima). Cantava em inglês, no Copacabana, e lembra Cry me a River. Conheceu Geraldo Pereira, e canta Falsa Baiana. Foi apresentada a Tom Jobim por João Gilberto - e a lembrança serve para que ela cante um Jobim pouco conhecido, Só Saudade, parceria com Newton Mendonça. Antônio Maria, Ari Barroso, Dolores (num denso pot-pourri), Billy Blanco, Menescal & Bôscoli, Silas de Oliveira e Nelson Cavaquinho são outros autores que interpreta, a voz palhetada em vibrato sutil, a emoção e a técnica em comunhão absoluta. Especial Marisa Gata Mansa - Amanhã, às 22h30. TV "Cultura" (operadoras/canais: NET 16; SKY, 37; Directv, 213.

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