Cultura na Europa sofre com "síndrome Iraque"

O conflito continua impondo baixas no setor cultural europeu, afetando a venda de discos, a freqüência a teatros e shows. Até o lançamento de livros tem sido revisto, incluindo o novo de Paulo Coelho

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Por Agencia Estado
Atualização:

Aparentemente em sua fase final, o conflito do Iraque continuou, todavia, afetando a vida artística e cultural da Europa neste último fim de semana, como o evidenciou a baixa inalterável da freqüência a teatros, shows musicais e da compra de discos, videocassetes e de romances no setor literário. A explicação básica para o fenômeno é a de que o grande público preferiu acompanhar a evolução da guerra pela televisão. Interveio igualmente o medo de atentados. Em Berlim, Londres, Paris e Roma, apenas os cinemas foram menos atingidos pela retração do consumo cultural, sendo o fato atribuído, em parte, a filmes americanos como Demolidor, Chicago e As Horas, que prosseguiram atraindo um público cada vez maior no auge da guerra. Em contrapartida, o mercado europeu de videocassete e de DVD acusou uma baixa de 40% no seu volume de negócios. "Quem ficou em casa, optou por ver os horrores da guerra transmitidos ao vivo pela TV", observou o produtor de cinema francês, Claude Berri. Por sua vez, em Paris e Berlim, os teatros registraram queda da freqüência de 50%. Nas duas cidades, várias peças estão ameaçadas de ser retiradas do cartaz antes da data prevista, caso a tendência depressiva atual não seja superada até o próximo fim de semana. Nas quatro principais capitais europeus, entre 20 e 40% do público habitual dos concertos musicais decidiu permanecer em casa. Ante essas projeções negativas, vários shows de estrelas inglesas e americanas puderam ser ainda cancelados a tempo. Nem mesmo a prima-dona canadense Céline Dion conseguiu escapar: em Paris, a venda de seu novo álbum, The Heart, caiu 20%. Já o concorrido festival Primavera de Bourges, entre 22 e 27 de abril, não deverá sofrer maiores deserções: segundo seu diretor, Daniel Colling, dois terços dos ingressos para os diversos concertos foram vendidos antes da deflagração da guerra - e poucas pessoas estão pedindo o cancelamento de suas reservas. Paulo Coelho adiado - O setor literário foi igualmente afetado, com a venda de romances e de outras obras de ficção registrando queda que os editores consideram "considerável", embora evitem o anúncio do porcentual respectivo. Em compensação, nas quatro capitais européias, aumentou vertiginosamente a procura de livros sobre as questões políticas e religiosas do mundo árabe-muçulmano e, em particular, sobre o background da guerra no Iraque. Em menos de dois dias, por exemplo, foram vendidos na França 150 mil exemplares de A Guerra de Bush, do jornalista Eric Laurent, que virou, ao mesmo tempo, um dos analistas mais requisitados pelos canais de televisão. Por causa da "síndrome Iraque", os editores europeus resolveram adiar o lançamento de presumíveis best sellers na área romanesca. Figurando nessa relação, o novo livro de Paulo Coelho, Onze Minutos, que teve sua saída na França transferida da primeira para a terceira semana de maio. Veja o especial :

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