Cultura está em 4.º lugar nos gastos dos brasileiros

Levantamento inédito indica que cada família gasta R$ 115,50 mensais com cultura

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Por Agencia Estado
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As famílias brasileiras gastam em média 7% de seus rendimentos em produtos e serviços culturais, incluídos os meios de comunicação e telefonia. Relatório do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgado nesta quarta-feira pelo governo indica que a cultura fica em 4.º lugar nos gastos dos brasileiros, após moradia, alimentação e transporte. O relatório mediu as despesas dos brasileiros em produtos e serviços considerados culturais, como cinema, teatro, espetáculos, discotecas, televisão paga, internet e cursos, mas também na reprodução de materiais gravados, a aquisição de eletrodomésticos destinados à diversão, a telefonia, a compra de jornais e revistas, decorações e realização de festas. A telefonia (celular, fixa e internet), por exemplo, foi incluída, o que levou a cultura à quarta colocação do consumo. Sem ela, o item cai para o sexto lugar no orçamento familiar. Segundo um relatório, cada família brasileira destina à cultura, em média, cerca de R$ 115,50 mensais. Mas, desse total, a telefonia representa quase a metade, ou R$ 50,97. Sem ela, o total de despesas culturais cai para R$ 64,53, ou 4,4% do orçamento familiar. A diretora de Pesquisa do IBGE, Wasmália Bivar, disse que o objetivo é, no futuro, separar, dentro da telefonia, os segmentos voltados especificamente para cultura, como transmissão de imagens e dados e internet. Após a telefonia, as despesas do setor que mais pesam no orçamento familiar são a aquisição de eletrodomésticos utilizados em atividades culturais e as atividades recreativas como diversão e festas. Levantamento inédito é feito a pedido de Gilberto Gil A atividade ocupa 4% da mão-de-obra ativa do País, ou 1,43 milhão de pessoas, e representa 5,2% das empresas formais. As conclusões estão no Sistema de Informações e Indicadores Culturais (SIIC), estudo apresentado nesta quarta, depois de dois anos de elaboração. Como é uma pesquisa pioneira, o próprio IBGE reconhece que há pontos a afinar, a começar pela definição do que é atividade ou consumo cultural. O levantamento, inédito, foi feito a pedido do ministro da Cultura, Gilberto Gil, para avaliar o peso da atividade cultural no Produto Interno Bruto (PIB) do País. Ainda não se chegou a este dado por dificuldades metodológicas, mas o objetivo é divulgar o PIB cultural em 2008, de acordo com o presidente do IBGE, Eduardo Nunes. "Precisamos saber, de cada atividade, o que é exclusivamente cultura. Em 2007, faremos o primeiro cálculo, que não contemplará toda a atividade cultural, e vamos desenvolver a tecnologia apropriada. Se esse trabalho avançar, em 2008 daremos os primeiros resultados", disse Nunes. Para Gilberto Gil, delimitar a economia da cultura permite qualificar a atividade e aumentar sua importância no orçamento nacional. Atualmente, sua pasta fica com 0,6% do total. Quanto maior a escolaridade do chefe da família, maior o gasto O destino do orçamento para a cultura varia de acordo com a renda mensal. As famílias de renda menor empregam um terço (32,6%)do que gastam com cultura na compra de eletrodomésticos voltados para o consumo cultural (rádio, televisão, computador, vídeo etc). As famílias com rendimento maior, acima de R$ 3 mil, usam apenas 11,7% dos gastos com cultura na compra destes equipamentos. Reunir pessoas em festas e outras atividades comemorativas também consome boa parte do orçamento de cultura das famílias. As mais ricas gastam mais nisso (13,6%) do que as mais pobres (8%). Além disso, o estudo conclui que, quanto maior a escolaridade do chefe da família, maior o gasto com cultura. As famílias cujo chefe não tem instrução gastam, em média, R$ 33,67 por mês com cultura, enquanto as famílias chefiadas por quem tem curso superior gastam, em média, R$ 391 por mês neste item. O que não muda é a curva ascendente do gasto com cultura, que acompanha a renda familiar. As famílias que têm rendimentos mensais até R$ 400 gastam em torno de 2,59%. As que ocupam o topo da estatística, com rendimentos acima de R$ 3 mil, gastam o dobro: 5,45% do orçamento. Cristina Carvalho Lins explicou que o pioneirismo do estudo o tornou referência na América Latina. "Países como Colômbia, Chile, Venezuela e Argentina começam a medir a dimensão sócio-econômica da cultura e estamos todos nos reunindo para montar indicadores comparados. Na Europa, França e Espanha estão adiantados, mas eles só servem de referência na criação de uma contabilidade de dados estatísticos e de uma nomenclatura comum." 3,7 milhões de pessoas se dedicam a atividades culturais De acordo com o IBGE, pelo menos 3,7 milhões de pessoas se dedicam no Brasil a atividades culturais, em sua maioria por conta própria. Os brasileiros que trabalhavam em atividades do ramo cultural tinham uma escolaridade (11 anos) superior à da média nacional (8 anos). O rendimento destes trabalhadores, no entanto, era praticamente o mesmo que o da média dos trabalhadores do país. As empresas do setor de serviços que mais geravam emprego em atividades culturais eram as dedicadas a outras atividades de ensino, como cursos de informática, artes ou música; os serviços de telecomunicações e os serviços de processamento de dados. Entre as empresas do setor industrial com maior número de empregos no ramo cultural se destacavam as empresas de edição e impressão gráfica e as de edição e impressão de periódicos. Segundo o IBGE, as empresas dedicadas ao ramo cultural que ofereciam os maiores salários eram as agências de notícias, as empresas de telecomunicações e as produtoras de televisão.

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