Cultura Artística: elogios de Mário de Andrade

A Sociedade de Cultura Artística promoveu a música nacional e internacional. Espaço para as primeiras audições de Villa-Lobos ou para a voz de Edith Piaf e o piano de Arthur Rubinstein

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Por Agencia Estado
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Com a intenção de "promover a vulgarização das obras de arte e literatura nacionais, pelo meio imediato de conferências públicas acompanhadas de concertos musicais", era anunciada em fevereiro de 1912 a criação da Sociedade de Cultura Artística. "À medida que a cidade de São Paulo crescia em diversos setores", relembra Gérald Perret, "algumas pessoas perceberam que, no campo das artes, o que andava sendo feito era muito pouco e pararam para pensar a respeito de modos de transformar aquela situação". O primeiro sarau da Cultura Artística, realizado no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, na Avenida São João, ocorreu em 26 de setembro de 1912, quando a direção da sociedade era composta pelo médico Arnaldo Vieira de Carvalho, pelos advogados Frederico Vergueiro Steidel e Roberto dos Santos Moreira, o jornalista Nestor Rangel Pestana e o comerciante José de Mello Abreu. Ao lado deste grupo e de outras pessoas envolvidas com o projeto estava também D. Esther Mesquita, personalidade que sempre se dedicou à cultura paulistana e foi a responsável pela consolidação social e econômica da Cultura Artística. Em seu primeiro ano de existência, a sociedade conseguiu trazer ao Brasil importantes nomes da música mundial, como os maestros Felix Weingartner e Ernest Amsert, o pianista Friedrich Gulda, a bailarina Ana Pavlova e o tenor Beniamino Gigli que, apesar de associado aos repertórios francês e italiano, interpretou em uma noite histórica a ópera Lohengrin, do compositor alemão Richard Wagner. Os avanços que as temporadas do Cultura Artística trouxeram à vida paulistana não passaram despercebidos. Escrevia em 1942, Mário de Andrade: "Os sons ilustres da música internacional nunca teriam soado na cidade se não fosse o esforço e a dedicação da Sociedade de Cultura Artística". Engana-se, porém, quem pensa que os talentos brasileiros foram deixados de lado: Antonietta Rudge, Guiomar Novaes e Souza Lima foram alguns dos pianistas que participaram das temporadas da Sociedade. Aliás, quando inaugurou em 1950 seu teatro, na Rua Nestor Pestana, a Sociedade promoveu um concerto da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, regida por Camargo Guarnieri e Villa-Lobos que, entre outras peças, promoveram as primeiras audições de obras suas. Teatro - Projeto do arquiteto Rino Levi, o teatro trouxe alguns problemas para a Cultura Artística na década de 60 quando em decorrência dos enormes gastos que ele impunha, foi arrendado para o extinto Canal 9 - TV Excelsior. Em 78, no entanto, o teatro voltou para a sociedade, que teve de reformá-lo devido ao mau estado em que foi devolvido. Este episódio também redefiniu a relação da sociedade com as empresas que passaram a ajudar na composição das temporadas. Ao longo destes 90 anos, passaram pelo palco do Cultura Artística grandes artistas - como Arthur Rubinstein, Bidu Sayão, Lorin Maazel, Kurt Masur, Daniel Barenboim, Edith Piaf, Claudio Arrau (lenda do piano que fez mais de 15 apresentações no Cultura Artística), Nelson Freire, Pierre Boulez e Antonio Meneses - e orquestras como a de Paris, a do Gewandhaus de Leipzig, a Sinfônica de Boston e a Filarmônica de Viena.

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