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Cultura

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Por Luis Fernando Verissimo
Atualização:
O escritor Luis Fernando Verissimo Foto: EDUARDO NICOLAU/ESTADÃO

-A direção está preocupada com as críticas ao baixo nível cultural da nossa programação. Sugeri que se fizesse adaptações de clássico da literaturas, como Guerra e Paz. – Com Tony Ramos como Napoleão, se a Globo o largar. Boa ideia. – Mas ninguém gostou, na reunião. Hasteei a ideia e não bateram continência. Atirei contra a parede e não colou. Acharam que seria uma novela muito cansativa. Sugeri uma série, em 6 capítulos. – Guerra e Paz em seis capítulos fica “Escaramuça e trégua”.  – Também acharam que o livro tem muitos personagens. Russos demais, para o horário. Fiquei deprimido, logo agora que meu analista está fazendo sonoterapia. – O que você acha de Shakespeare? – Acho que tem futuro. – Não, digo: adaptações de Shakespeare. Hamlet, com algumas modificações. – Que modificações, por exemplo? – Sempre achei a cena do cemitério muito mal resolvida. A caveira do Yorick poderia ter uma fala. – É preciso ter cuidado com as adaptações. Lembra do que disseram da nossa produção sobre Roma Antiga só porque César se despediu dos senadores com um “tchau geral”? – Outra coisa: a Marcinha sempre foi louca por fazer Ofélia. Ela só precisaria cuidar do sotaque carioca. – É, ela também já me disse que sonha em fazer Ofélia, principalmente a cena do balcão. – Não há nenhuma cena de balcão em Hamlet. – A gente insere. Vou levar sua ideia para a direção, atirar no chão e ver se eles dançam em volta. – O único problema de Hamlet é a violência. No fim, morre todo o mundo, inclusive os câmeras. Haja ketchup. Na nossa versão, Hamlet não morre no final. Sobrevive para herdar o trono. A mãe e o tio também sobrevivem e ganham uma embaixada no exterior. Pensando bem, a única pessoa que morre na nova versão é a Ofélia, que se atira do balcão. – O crânio do Yorick também pode voltar no final para dizer algumas piadas. – Isso. Já estou pensando nos contratos que se poderá fazer com os patrocinadores. Hamlet está cheio de possibilidades de “tie-ins” e “spin-offs”, ou, em bom português, merchandising. – A cultura triunfa!

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