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COUNTRYTHE LAST CONCERTROY ORBISONST2 Records Preço: R$ 30O show de despedida de Roy Orbison

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Por Redação
Atualização:

Jotabê Medeiros

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No panteão dos lendários do rock"n"roll, a voz mais trágica do gênero é sem dúvida a do texano Roy Orbison (1936-1988) e seu "falsetto celestial", como escreveu alguém. Ouvi-lo neste concerto de Akron, Ohio, dois dias antes de sua morte, tem o efeito de ouvir um órgão chorando numa catedral deserta. The Last Concert (ST2 Records) é cheio de belas surpresas, além dos hits atemporais do artista (como Crying e Pretty Woman).

As versões de Mean Woman Blues e Candyman são as melhores do lote. Mean Woman Blues é um blues composto por Claude Demetrius que foi gravado pela primeira vez por Elvis Presley na trilha sonora de um filme de 1957, Loving You. Orbison a gravou em 1963 como um single, e a gravação chegou ao top ten da Billboard (outro gigante, Jerry Lee Lewis, também a gravou). Mas, na voz de Orbison, parece carregar uma dose extra de abandono espiritual, um primor.

Já Candyman, turbinada pela harmônica e contrabaixo, é um rock"n"roll de jukebox ultradançável, superdinâmico, com uma batida irresistível. Mas a palavra dançar é um pleonasmo quando se trata de Roy Orbison: nada pode fazer uma sexta-feira, 13, mais divertida do que ficar ouvindo os deliciosos vocais de Lana, outro roquinho de pista adorável. Em Go Go Go (Down the Line), ele faz uma festa à moda de Jerry Lee, com o piano em chamas botando todo mundo em pé.

"Ao final do concerto, Roy agradeceu a Benny, Bob, Fred, Tommy, Lisa, Gwen, Terry, Mike, Bob, Bruce, Turbo e, especialmente, Tom Dills", diz o texto do encarte. Era sua banda e equipe de turnê. Acenou e disse "adeus" para a plateia. Dois dias depois, sentiu uma dor no peito e foi internado. Nunca mais voltou. O culto a Roy Orbison não é passadista, ao contrário do que possam pensar. Seu legado renova a música, e há discípulos sérios, como Chris Isaak e mesmo Bruce Springsteen. A cantora canadense k.d. lang, uma das maiores vozes da música internacional, fissurou em Roy Orbison. Tanto que chegou a excursionar e gravar com ele. Suas versões de Constant Craving e Crying são de arrepiar. Até o enfant terrible da literatura carioca, Botika, toca o velho em seus shows.

Na fronteira entre o melodramático e o sentimento puro, baladeiro & rockabilly, Roy Orbison merece ser ouvido com calma pelas novas gerações. Ídolo em sua época (Oh, Pretty Woman manteve-se no topo das paradas em 1964, em plena era da Invasão Britânica), chegou mesmo a excursionar com os Beatles, e John Lennon admitiu que copiava um pouco seu estilo no primeiro álbum de sucesso, Please Please Me.

OUÇA TAMBÉMCRYING

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Artista: k.d. lang. Álbum: Recollection. Gravadora: Universal Music. Preço: a partir de RS$ 40 (álbum duplo)

BLUESTHIS IS THE BLUESVÁRIOS ARTISTASST2/Eagle RecordsPreço: R$ 30, em médiaColeção mostra diferentes cores do antigo blues

Nos quatro volumes que a ST2 lançou da coletânea This Is the Blues, há um amplo espectro musical. O primeiro volume traz roqueiros como Jeff Beck, Mick Taylor, Chris e Mick Jagger ao lado de gente do ramo, como Wilbur Bascomb, Dave Peverett, Southside Johnny. No segundo volume, que é bem interessante, comparecem Jack Bruce e Nine Bellow Zero e também Nigel Watson, Jeff Allen e Booker T. Jones. Não são artistas sempre estranhos ao gênero, mas suas visões parecem renovadas em alguns desses álbuns. Clássicos compostos por Robert Johnson, Willie Dixon, T-Bone Walker, Peter Green, John Lee Hooker recebem as leituras carregadas de novos significados por esses artistas diversos. A diáspora do blues, da África para os campos de algodão dos Estados Unidos, e depois reingressando no mundo, aparece renovada - como por exemplo nos solos de Christer Bjorklund, na versão que fez para The Supernatural. Como dizia o guitarrista malinês Ali Farka Thouré, o papa do blues do deserto, não importa onde nasceu o gênero, o que importa é o que fazem com ele. / J.M.

OUÇA TAMBÉMMY BABY SHE LEFT ME

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Artista: Buddy Guy e Junior Wells. Álbum: Play the Blues. Gravadora: Warner. Preço: R$ 40 (disco duplo)

SAMBANILZE CARVALHO, PEDRO MIRANDA E PEDRO PAULO MALTALEMBRANÇAS CARIOCAS Biscoito Fino Preço: RS 34,90 Respeito merecido aos sambas dos anos 1950

Sempre que se trata de fazer releituras de músicas consagradas, há duas linhas a seguir: fazer uma interpretação ousada e moderna, que apresente algo de novo, ou optar por arranjos convencionais, como forma de respeito ao registro original, desde que toquem com a mesma emoção. Lembranças Cariocas, que traz o trio Nilze Carvalho, Pedro Miranda e Pedro Paulo Malta vestindo o samba com o summer mais elegante dos guarda-roupas da Lapa, une as duas opções, regravando clássicos de gigantes do cancioneiro nacional, como Cartola, Carlos Cachaça, Bide, Marçal, Dorival Caymmi, Ary Barroso e Braguinha. O álbum mescla arranjos convencionais, respeitosos e bem-feitos, como em A Primeira Vez (Bide e Marçal), com outros pra lá de criativos. Destaque para Ninguém Me Ama (Antônio Maria e Fernando Lobo), na voz de Pedro Paulo Malta, acompanhado apenas por clarone e clarinete. Na última faixa, Chico Buarque declama Canto do Rio em Sol, de Carlos Drummond de Andrade. / LUCAS NOBILE

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OUÇA TAMBÉMHONRANDO UM NOME DE MULHER

Artista: Ná Ozzetti e André Mehmari.

Em altaCultura
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Álbum: Sopa de Concha (Grupo Rumo). Gravadora: Biscoito Fino. Preço: R$ 34,90

DANCEKYLIE MINOGUEAPHRODITE EMIPreço: R$ 30Quando o disco é melhor do que a cantora

A pista só enche depois da terceira música em Aphrodite, décimo primeiro disco do longo reinado de Kylie Minogue sobre as boates europeias. Até então, a obra parece destinada à mediocridade de canções picaretas e melodias plastificadas. Mas surgem sintetizadores pulsantes, apuram-se as batidas. Kylie vai ao bar e pede um energético. Quando volta, o disco vira uma aula de dance pop ministrada por Stuart Price, produtor executivo que já assinou discos de Madonna e Pet Shop Boys. Price trabalha texturas sintetizadas com categoria e constrói faixas de embalo contagiante embasadas em sons dos anos 80. Mesmo animada, Kylie fica em segundo plano: não arrisca ir além de um saudável narcisismo de pista. Sua voz, tratada demasiadamente com afinação artificial, soa como o ralhar de uma namorada irritante. Se Price almejasse uma estética mais crua, teria um ótimo disco em mãos. Mas Kylie teria de se garantir sem maquiagens sonoras. / ROBERTO NASCIMENTO

OUÇA TAMBÉMDA FUNK

Artista: Daft Punk. Álbum: Homework.

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Gravadora: Virgin France.

Preço: $57

SOFT ROCKSTINGSYMPHONICITIESUniversalPreço: R$ 37 Sting apela à orquestração de velhos hits

Sting gravou obras para alaúde em 2006 e produziu um disco de Natal com canções antigas no ano passado. São caminhos eruditos cuja verniz elegante não basta para esconder o fato de que o artista está criativamente seco e em busca de dinheiro. A combinação é, como sempre, desastrosa e fica clara em seu novo trabalho Symphonicities. Com arranjos pouco ousados que mais parecem trilhas para filmes, o disco traz, na voz de Sting, hits acompanhados pela Royal Philharmonic Orchestra. Destes, o único que se salva é Roxanne, que não deixa de ser belo nem quando é massacrado por karaokês. / R.N.

OUÇA TAMBÉMSTREET SPIRIT (FADE OUT)

Artistas: Peter Gabriel.

Álbum: Scratch My Back. Gravadora: EMI. Preço: R$ 34

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SAMBAMARIO ADNETO SAMBA VAIBiscoito Fino Preço: R$ 34,90Mais de uma família que sabe o que faz na música

Depois dos belos trabalhos de arranjo e produção em Ouro Negro e Choros e Alegria, resgatando a obra de Moacir Santos, e Afrosambajazz, sobre Baden Powell, Mario Adnet volta a lançar um disco autoral. Seguindo a verve de Adnet (e da família que sempre apresenta obras interessantes, com exceção de Marcelo Adnet), O Samba Vai tem arranjos bem cuidados, com parcerias de Adnet com João Donato, Lisa Ono e Paulo Cesar Pinheiro. A emoção do disco toma conta mesmo na brincadeira franco-brasileira À Toi, na bela e afinada voz de Antonia Adnet. / L.N.

OUÇA TAMBÉM SE VOCÊ DISSER QUE SIM

Artista: Muiza Adnet.

Álbum: As Canções de Moacir Santos. Gravadora: Tratore. Preço: R$ 34,90

FOLK E BLUESTOMJONESPRAISE AND BLAMEUniversal Preço: R$ 30 Um crooner em crise Produtiva

As dúvidas de meia-idade de Tom Jones vieram tarde. Com pés firmes nos 70 anos, o cantor não sabe se deve passar o entardecer de sua carreira abnegado como Johnny Cash ou abraçando o diabo como Tom Waits. O resultado é um disco sacro e profano, com blues viscoso e cantigas de fé. Jones não traz o abandono necessário para uma interpretação legítima dos gêneros, mas seu carisma de crooner faz da tentativa um ato afável e empolgante, tal como um tio bêbado que arrepia ao roubar o microfone numa festa de casamento. A banda que o acompanha transita entre a igreja e o bordel com facilidade. / R.N.

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OUÇA TAMBÉM AIN"T NO GRAVE

Artista: Johnny Cash. Álbum: American VI: Ain"t No Grave. Gravadora: American. Preço: R$ 55

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