Crise pode levar ao fim do TBC

A diretora Fezu Duarte diz que não pode continuar pagando as despesas do próprio bolso e que seria necessário um investimento anual de R$ 1 milhão

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Por Agencia Estado
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O novo TBC (Teatro Brasileiro de Comédia), no Bixiga, recentemente tombado pelo Patrimônio Histórico, está fechando as portas, depois de três anos e meio de atividades ininterruptas. O anúncio foi feito pela diretora artística do teatro, a atriz Fezu Duarte, 26 anos. "Não podemos mais arcar com as despesas do teatro pagando do próprio bolso", disse a administradora, em tom emocionado. O novo TBC foi reaberto em setembro de 1999, depois de uma restauração que custou R$ 4 milhões, custeada pelo empresário Marcos Tidemann, pai de Fezu Duarte. Espetáculos musicais A Ópera do Malandro e Os Saltimbancos, de Chico Buarque e direção de Gabriel Villela, corroboraram no sucesso logístico do espaço, que, no entanto, nunca chegou a gerar dividendos. "Necessitaríamos de um investimento anual da ordem de R$ 1 milhão", alega a diretora. Na noite de terça-feira, Fezu entrava em contato com artistas que "tinham pauta" em 2003, em uma das cinco salas do prédio, para explicar o fechamento. Também foram demitidos 24 funcionários. O teatro era mantido ao custo de R$ 80 mil mensais, dos quais R$ 33 mil eram destinados a pagamento do aluguel. "No ano de 2002, conseguimos angariar colaborações das empresas Chaim, TAM e Remazza, que garantiram 60% dos custos. Mas os outros 40% (R$ 32 mil) não foram supridos pela bilheteria", explica a diretora. "E olha que tivemos ótimas bilheterias, mas o problema é que nossa filosofia sempre foi trabalhar com ingressos a preços populares (entre R$ 5,00 e R$ 10,00)." Segundo Fezu, a bilheteria mensal supria apenas cerca de 15% da despesas mensais. "Chegamos a tentar uma negociação de compra com a proprietária do prédio (Magnólia do Lago), mas oferecemos R$ 4 milhões, contra os R$ 6 milhões a que ela chegou", explica Fezu Duarte. O arrendamento do prédio passaria de R$ 33 mil para R$ 38 mil, em março. A diretora disse, ainda, que "tentar viabilizar a continuidade do TBC seria mudar radicalmente nosso projeto, de não trabalhar com sucessos fáceis ou meramente comerciais." Companhias como os Parlapatões, Patifes & Paspalhões (Hugo Possolo) e Círculo dos Comediantes (Marco Antônio Braz) desenvolveram projetos específicos na Sala Repertório. O TBC foi inaugurado originalmente em 1948, fundado pelo industrial Franco Zampari. Formou artistas do quilate de Paulo Autran, Cacilda Becker, Fernanda Montenegro e Sérgio Cardoso. Pelo teatro, passaram diretores estrangeiros dos mais importantes, como Ziembinski e Adolfo Celi. Uma nova geração de diretores brasileiros brasileiros também se formou no TBC, a exemplo de Antunes Filho. Polêmica - Até quarta-feira passada, a proprietária do prédio, Magnólia do Lago Mendes Ferreira disse não saber da entrega do imóvel. Também afirmou que o término do contrato seria em agosto e não em março de 2003, conforme anunciado pela diretora artística do TBC. "Se não forem acertados os meses que faltam até o término do contrato, vou cobrá-los judicialmente." A proprietária disse, ainda, que chegou a oferecer o imóvel para o empresário Marcos Tidemann, por um valor de R$ 7 milhões, e que não obteve resposta. "Se eles realmente querem devolver o TBC, garanto que o teatro continuará funcionando. Eu adoro o TBC e não vou permitir que feche de jeito nenhum." Fezu Duarte foi novamente contatada e esclareceu que há dois meses foi procurada pela própria Magnólia, que informava interesse do Estado em adquirir o prédio por R$ 9 milhões. "Na época, ela nos disse que o contrato venceria em abril de 2003, de acordo com uma cláusula contratual. Nós pensávamos também que ficaríamos com o teatro até agosto, mas ela nos provou que nosso contrato deixava de vigorar a partir de abril", arremata Fezu.

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