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Livro 'Crisálidas' será lançado hoje em São Paulo

Fotógrafa Madalena Schwarz dá visibilidade a personagens concentrados no centro da cidade

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Por Redação
Atualização:

Quem via aquela senhora estrangeira elegante e discreta, miúda atrás de uma balcão de uma lavanderia no centro de São Paulo nos anos 1960, não poderia imaginar que na década seguinte ela se tornaria uma fotógrafa conhecida e reconhecida, especializada em retratos que dariam visibilidade a uma coleção de personagens que se concentravam no centro da cidade, mais precisamente perto de sua casa, no Edifício Copan: aristas, boêmios, transformistas, travestis, pessoas conhecidas, anônimos passantes. Madalena Schwarz (1921-1993) foi criadora de uma obra forte e incisiva, que não perdeu sua força e hoje se insere muito bem na imagem contemporânea. Parte desta retratos estão reunidos agora no livro Crisálidas (136páginas, R$ 80), que o Instituto Moreira Salles lança hoje em São Paulo, com personagens da área artística, como as dos grupos Dzi Croquettes ou dos Secos e Molhados. Nascida na Hungria em 1921, Madalena seguiu para a Argentina em 1934, para encontrar o pai que por lá vivia. Trinta anos depois, casada e mãe de dois filhos, se mudaria para São Paulo. Como acontece com todo imigrante, é preciso aprender a conhecer os hábitos do país onde se vive. “Minha mãe não resistia a um rosto interessante e quase toda sua paixão voltou-se para o retrato, um gênero que dizia muito sobre as suas inquietações e curiosidades mais pessoais”, escreve seu filho Jorge Schwartz, organizador do livro Crisálidas.

Composição. Foi para satisfazer esta curiosidade, que surgiu a partir do vai e vem das pessoas que frequentavam a lavanderia, que Madalena resolveu aprender a fotografar. Passou a frequentar o conhecido Foto Cine Clube Bandeirante, lugar de discussão e experimentação fotográfica, pelo qual circulavam personagens como Thomaz Farkas, Geraldo de Barros e German Lorca. Foi lá que aprendeu as primeiras regras de composição e iluminação. Para treinar, fotografava - sempre de graça - os profissionais do teatro. O estúdio era a sala de seu apartamento, onde realizava ela própria suas composições de cenografias. Sua técnica, em especial seu trabalho em laboratório, chamava a atenção pela estética apurada: fotógrafa e fotografados se entregavam um ao outro. Suas imagens resultavam em força e explosão imagéticas. Anos duros, de ditadura, de movimentos de contestação cultural e sexual. A maneira como estes grupos lidavam com estas situações fascinava Madalena Schwarz, que passou a frequentar os bares onde este pessoal se reunia, tornou-se amiga deles e construiu um belo documento desta época com imagens que cobrem quase duas décadas de produção. Escola. O teatro, os artistas, foram sua grande escola, foi com eles que ela se profissionalizou. “Talvez minha mãe nem se considerasse uma artista, entendendo seu trabalho como mais uma etapa da luta de todo imigrante por se reconhecer - e ser reconhecido - no país em que aportou”, relata Jorge Schwarz. Talvez justamente daí venha a escolha deste modelos que de alguma forma se tornavam presentes e visíveis por meio da ousadia e, talvez por isso o nome Crisálidas. É como lembra o escritor argentino Edgardo Cozarinsky, que escreve o texto do livro, comparando os retratados a criaturas mitológicas: “As crisálidas são as formas mais vistosas que a larva pode adotar em sua metamorfose rumo ao estado de imago”. Neste caso, o termo escolhido para título do livro pode valer tanto para os personagens como para a própria Madalena Schwartz, fotógrafa e fotografados se descobrindo e se reconhecendo ao mesmo tempo.

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