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Criadores brasileiros ocupam ruas de Londres

Artistas desenvolveram atividades na cidade atraindo o interesse de londrinos e turistas

Por FLAVIA GUERRA - O Estado de S.Paulo
Atualização:

LONDRES - Há menos de um mês, quando os 30 artistas cariocas que compõem a equipe do Occupation London chegaram à capital inglesa, depararam-se com uma responsabilidade com a qual não necessariamente contavam: a de não só atrair a atenção da opinião pública, mas também a da mídia internacional. Para um grupo que foi escolhido justamente por representar não o mainstream "para inglês ver", mas sim o que de inovador e não óbvio os artistas brasileiros têm produzido, a tarefa era árdua. "Não pela qualidade, ou pela seriedade e paixão com que fazemos nosso trabalho, mas sim porque atrair atenção midiática não é o nosso maior objetivo. É, sim, produzir, interagir e aprender", comentou o artista sonoro Siri, um dos 30 membros da trupe Occupation London ao Estado enquanto se preparava para finalizar seu trabalho no Battersea Arts Center (BAC) e, de lá, partir para o V22, espaço cultural londrino que os brasileiros irão ocupar de hoje a sexta. É no V22, uma antiga fábrica de biscoitos, que ocorre o Festival Finale, a maratona de shows, performances, apresentações de (quase) tudo que foi produzido durante o mês em que Siri e os outros 29 artistas foram residentes do BAC. Mais que um local de produção, o BAC, um dos principais pontos de cultura do sul de Londres, é um centro de convívio. Ao mesmo tempo em que músicos fazem experimentações, dezenas de bebês brincam no playground, estudantes almoçam no refeitório e velhinhos aprendem a dançar no imenso salão de baile. "Por esta e por outras, o BAC é um lugar único, em que a arte não se vê institucionalizada, mas incorporada no dia a dia da comunidade. Para nós, ver a arte fazer parte do cotidiano, em todos os níveis, foi uma das grandes descobertas e alegrias deste mês", comentou Christiane Jatahy, diretora artística do Rio Occupation London. Exatamente um mês depois de sua chegada, os artistas também podem respirar tranquilos quando o assunto é a atenção da mídia. A julgar pela participação dos jornalistas presentes na coletiva de imprensa realizada ontem pela secretaria do London Festival (o braço cultural da Olimpíada, que divide a realização do Occupation com a Secretaria de Cultura do Rio), era possível ver o interesse com o qual o mundo olha o Brasil. Em plena semana de Jogos Olímpicos, um grupo grande de correspondentes internacionais compareceu ao evento não tanto interessados no que Ruth Mackenzie, diretora da Olimpíada Cultural, tinha a dizer, mas sim no que a secretária de cultura do Rio, Adriana Rates planejava para a Rio 2016. Quando questionada sobre o que funcionou e não funcionou na Olimpíada Cultural, para que fosse repetido, ou não, no Rio, Rates afirmou: "Estou aqui só há quatro dias. Adorei tudo que vi. Tudo está funcionando. Principalmente a importância que a cultura tem. Esta é a primeira vez em um século que a arte ganha esta dimensão durante os jogos." Certamente a Occupation não só funcionou como vai ser repetida no Brasil. Afinal, mais que a almejada mídia, as atividades que os artistas brasileiros desenvolveram ao longo do mês em vários pontos da cidade atraíram o interesse de centenas de londrinos e turistas. Além de intervenções em espaços públicos, eles entraram literalmente na casa das pessoas, em performances que evocaram o que de mais cosmopolita Londres tem. "Foi incrível. Estivemos desde em uma casa-barco de um muçulmano, a casa de uma família indiana, até a de um ex-veterano de guerra que nunca sai à rua", contou Jatahy. "Foi emocionante ver como a cidade está aberta não só a nós como também à arte. Aqui ela faz parte do cotidiano."

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