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Criações para o Recôncavo

Começa hoje o Fiar 3, evento que promove série de intervenções e debates em duas cidades baianas

Por Camila Molina
Atualização:

"Cenário de cinema, é sério", diz a artista Tininha Llanos sobre as cidades de Cachoeira e São Félix, no Recôncavo Baiano, onde, a partir de hoje e até sábado, ocorre um festival dedicado a intervenções artísticas. Integrante do GIA (Grupo de Interferência Ambiental), coletivo de artistas sediado na Bahia e dos mais destacados do circuito - por exemplo, eles participam da atual edição da mostra do projeto Rumos Artes Visuais do Itaú Cultural, em São Paulo -, Tininha organiza, há três anos, o Fiar, Festival de Intervenções Artísticas do Recôncavo. Mais de 50 artistas brasileiros e outros latinos vão criar obras especialmente para o evento e, mais ainda, participar de debates, oficinas e encenações abertos ao público em geral.O desafio é integrar criação artística à paisagem e ao espaço urbano, agir em uma região no interior do Estado da Bahia fora do eixo Salvador-Sudeste. Todas as edições do Fiar ocorreram em Cachoeira e São Félix, localidades tombadas pelo Iphan. São duas cidades que ficam uma de frente para a outra, com uma ponte sobre o Rio Paraguaçu. "Arte urbana nos grandes centros fica muito vinculada à publicidade. O interior ainda não foi invadido pelo show biz", diz Tininha Llanos. O festival tem, assim, o seu caráter reflexivo, como também chama a atenção para uma via "relacional" entre pessoas e o espaço da cidade.A feira livre de Cachoeira, por exemplo, atrai um público grande, de 500 a 1 mil pessoas vindas de lugares diversos, inclusive, "da roça". Interessa ao festival justamente a audiência espontânea e imensurável -, mas há os interessados em artes visuais e artistas locais que cativamente participam das atividades do Fiar, mais um evento da região, assim como a já conhecida Bienal do Recôncavo.A performance de abertura desta edição do festival, hoje, a partir das 8 horas da manhã, do coletivo Mucambo Nuspanoça, do Piauí, ocorrerá justamente na feira de Cachoeira, onde os artistas WG e Gilsão pretendem criar grafites em roupas dos transeuntes. Mas as intervenções artísticas do evento são diversas, trazem desde uma instalação com guarda-chuvas com sensores no Jardim Grande da cidade, a realização de oficinas de fotografia pinhole e de animação em película, respectivamente, com Bianca Portugal e com Paula Damasceno no Bairro do Tororó, e de passeios de barco até a criação do Flutuador, uma ilha estética feita de garrafas de plástico e criada pelo GIA para o Rio Paraguaçu.Rede. Na verdade, o Fiar tem essa pertinência de ser uma atividade de esforço coletivo e independente num cenário artístico brasileiro - e internacional - dominado pelo mercado de arte ou eventos espetaculares ávidos por patrocínios milionários. A 3.ª edição do festival marca sua ampliação, como a realização de um Encontro de Rede de Artes Visuais com representantes de vários coletivos. Como a chilena Rosa Apablaza e o Desislaciones, criado em 2006, mas que promove um blog com criadores de diversos países latinos. Outros participantes do festival são os grupos Opavivará, do Rio; Poro, de Minas Gerais; EIA e Frente 3 de Fevereiro, de São Paulo; e Rádio Amnésia, da Bahia. "Serão três debates públicos, com temas vastos", diz Tininha. O Fiar 3 está sendo realizado com R$ 100 mil - recursos de edital da Funarte, da Secretaria de Estado da Bahia e com apoios locais. "Os anteriores foram feitos com um terço desse montante", afirma a curadora. Um livro sobre o evento será lançado em abril, com 5 mil exemplares para distribuição.

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