Corra Gosling, corra

Aos 31 anos, ele vive um motorista sem nome e define o filme como uma combinação explosiva de velocidade e romance

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Por ELAINE GUERINI e TORONTO
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Ryan Gosling tem um sonho: "Inspirar alguém a se fantasiar no Halloween de um personagem que interpretei nas telas". Talvez o ator canadense realize o desejo com o filme Drive, graças à aura cult do motorista que dirige de madrugada pelas ruas de Los Angeles, vestindo jaqueta de cetim branco com um escorpião dourado estampado nas costas. Um traje quase de super-herói. "Por ser um cara fetichista, o diretor (o dinamarquês Nicolas Winding Refn) concebeu o motorista com muitos adereços que refletem uma personalidade solitária. Como a jaqueta que, pela cor e pelo tipo de tecido, consegue iluminar o protagonista à noite"', contou Gosling. Após as filmagens, ele não resistiu e levou para casa o figurino, inspirado em modelo coreano dos anos 50. "Se ninguém usar uma jaqueta parecida no próximo Dia das Bruxas, eu uso a minha", brincou ele.Gosling está muito à vontade na pele do personagem sem nome. Ele é definido apenas como "motorista" na trama de Drive, filme que levou o prêmio de direção em Cannes e estreia nesta sexta nos cinemas nacionais. Durante o dia o motorista atua como mecânico e dublê de Hollywood, em cenas de perseguição e de desastre automobilísticos. À noite, aproveita suas habilidades no volante para conduzir criminosos em fuga. Tudo vai bem até ele resolver ajudar o marido de sua vizinha (Carey Mulligan), por quem o protagonista se apaixona, colocando a sua vida ainda mais em perigo."Tenho uma queda por tipos pouco óbvios e mais desafiadores", afirmou o ator de 31 anos, indicado para o Oscar em 2007 pelo retrato do professor viciado em drogas de Half Nelson - Encurralados. Ryan Gosling também ganhou projeção ao interpretar o jovem tímido que namora boneca de plástico em A Garota Ideal (2007), o marido estourado de Michelle Williams em Namorados para Sempre (2010) e o assessor de imprensa ingênuo de Tudo pelo Poder (2011).O motorista de Drive é o que o ator chama de "uma combinação explosiva de violência e romance". "Perdido no mito de Hollywood, um lugar onde os sonhos supostamente se realizam, ele é uma espécie de cavaleiro sombrio, à la irmãos Grimm. Enquanto tenta salvar uma princesa aprisionada, precisa enfrentar seus demônios." E o motorista faz tudo quase em silêncio, falando o mínimo possível. "Desde que Nicolas me convidou para viver o personagem, eu o imaginei calado. Ao receber o roteiro, fui cortando a maioria das suas falas, o que deu ainda mais identidade ao motorista. Acredito ser possível dizer mais quando se diz menos."A música muitas vezes ajuda o espectador a entender o que o motorista está sentindo. Sua vida é embalada por trilha eletrônica melódica composta por Cliff Martinez (ex-baterista do Red Hot Chili Peppers). "O personagem dirige madrugada adentro ouvindo música por ser essa a sua única forma de alívio emocional. Só assim ele consegue sentir algo", disse Gosling, que compartilha com o motorista do filme o gosto pelos passeios de carro noturnos. "É impossível viver em Los Angeles e não dirigir. Mas para mim não é apenas uma obrigação. Adoro ligar o rádio e sair de carro sem destino. Chega um momento em que tenho a impressão de estar enfeitiçado, a ponto de não me lembrar do caminho que fiz ao chegar a algum lugar."Foi dentro de um carro, circulando por LA, que Gosling e Refn decidiram trabalhar juntos. Ator e diretor marcaram um almoço para discutir o projeto, mas a conversa não fluiu no restaurante. "Eu me senti num desastroso encontro romântico, em que ninguém tem o que dizer." O clima só começou a melhorar quando Refn pediu uma carona ao ator - ironicamente, o cineasta de Drive não dirige, pois falhou nos oito exames que fez para tirar a carteira de motorista. "Assim que liguei o rádio, a música que estava tocando era Can't Fight This Feeling, de REO Speedwagon. Nicolas começou a cantar e nós descontraímos. Aí, finalmente, nos entendemos."

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