Cordel chega ao palco para os estudantes

Roteirista quer encenar A Louca do Jardim, trama famosa do folclore nordestino

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Por Agencia Estado
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Esta história é um exemplo/ pra qualquer mulher casada/ que respeita seu marido/ e deseja ser honrada,/ que para quem não tem honra/ a honra não vale nada, diz Júlia Alves, personagem de O Assassino da Honra ou a Louca do Jardim, do pernambucano Caetano Cosme da Silva, editado pela Luzeiro, especializada em cordel. A poesia conta a história de um casal (Júlia e Orberto Alves Lins) separado por um conquistador (Paulo Ferreira da Silva), que faz o marido pensar que a mulher o traíra. Júlia, injustamente acusada, enlouquece (torna-se a Louca do Jardim), e a filha Albertina, a única que vingara, não chega a conhecê-la bem. E a menina, quando completa 15 anos, é também alvo do sedutor Paulo. O cenógrafo e roteirista Paulo Chada assistiu a uma encenação da peça em um circo, no Recife, quando tinha sete ou oito anos, e agora quer montá-la no teatro. O Assassino da Honra ou a Louca do Jardim (às vezes também chamada "no Jardim") é um dos cordéis mais reeditados, junto com O Pavão Misterioso. O objetivo de Chada é tornar o clássico conhecido pelos estudantes de hoje. Ele assinou a cenografia e figurinos dos filmes Ato de Violência (1980), pelo qual recebeu o prêmio de melhor cenografia do Festival de Brasília, e Dora Doralina (1978). Também recebeu em 1983, com Mário Monteiro, o prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) para melhor cenografia em televisão, na adaptação de Inspetor Geral para a Quarta Nobre, da Rede Globo. Ainda na Globo, foi o cenógrafo responsável por montagem e manutenção do programa Sai de Baixo, de 1996 a 1999. Machado de Assis - O Assassino da Honra ou a Louca do Jardim deve ser a primeira adaptação de textos literários do projeto As Presas da Serpente, que inclui outras adaptações - entre elas, a do conto A Felicidade, de Machado de Assis. Chada quer apresentar montagens atraentes, com custo de produção e preço de ingresso moderados, mas qualidade técnica e artística profissional. O projeto também prevê a edição e a distribuição da versão original das obras, e da adaptação, para parte do público. "Não são adaptações de textos que caem no vestibular", explica Chada. Para ele, essa espécie de subgênero teatral acaba afastando os alunos dos textos originais - o estudante vai ao teatro justamente para não ter de ler o livro. "Minha seleção prioriza textos menos conhecidos, mas que representem bem sua época e lugar", diz. Na sua opinião, a literatura de cordel é um gênero que não pode ser esquecido - e ao qual os estudantes, em geral, têm muito pouco acesso. Mesmo entre a população nordestina de São Paulo, o consumo desse gênero literário estaria se reduzindo, na sua opinião. A montagem de O Assassino da Honra ou a Louca do Jardim está orçada em R$ 127 mil reais. "É bastante simples", diz Chada, que já inscreveu a peça no Prêmio Flávio Rangel, da Secretaria Estadual de Cultura. Ele segue atrás de empresas dispostas a financiar o projeto, que prevê apresentações em escolas, fábricas, sindicatos, presídios e associações de bairro e de classe. Entre os atores que se dispuseram a participar está Lélia Abramo, que encarnaria, num vídeo exibido na introdução e no final do espetáculo, o fantasma de Creuza (espécie de mãe adotiva de Albertina, narradora da história). Também Selma Egrei (como Júlia) e João Vitti (como Paulo) já aceitaram atuar. Chada pode ser contactado pelo telefone (0--) 11-2324978, ou no endereço Rua Japurá, 177, Bela Vista, São Paulo, CEP 01319-030.

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