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Cony toma possa na ABL

Por Agencia Estado
Atualização:

A vida do escritor e jornalista Carlos Heitor Cony mudou pouco desde 16 de março, quando ele foi eleito para a Academia Brasileira de Letras. Tem feito as mesmas 13 crônicas semanais para a imprensa, Internet e televisão; os prefácios de livros de amigos e conhecidos; planeja um romance e trabalha numa biobrafia do escritor José Lins do Rego, patrocinada pela Paraíba, Estado natal do autor de Menino de Engenho. Hoje, esta rotina vai ser abandonada porque Cony toma posse, às 21 h, da cadeira número três da ABL, onde vai substituir o também escritor Herberto Salles. O discurso da posse já estava pronto desde a semana passada, assim como o fardão, pago pela Prefeitura do Rio. Cony gosta de cultivar as tradições (e por isso entrou para a Academia), mas desta vez ela foi quebrada pois diz o ritual de inciciação do novo imortal que quem paga todos os paramentos da posse é seu Estado de origem. "Acontece que o Rio tem algumas particularidades em relação às outras unidades da Federação", explica Cony. "Eu e a maioria das pessoas nascidas no Rio, nos consideramos só cariocas, não assumimos nenhuma relação com outras cidades do Estado." Cony vai falar muito pouco de si mesmo em seu primeiro discurso como acadêmico, pois ocupará a maior parte de seu tempo com seu antecessor. Não é modéstia, porque o acadêmico encarregado da saudação, Arnaldo Niskier, o terá como tema em sua fala de boas vindas. E também para não repetir o economista Roberto Campos, que expôs suas idéias políticas e econômicas quando tomou posse na cadeira que antes pertencera ao dramaturgo Dias Gomes. "Na época da eleição, eu defendi o direito de ele se candidatar e isso me causou problemas do lado da direita e da esquerda", lembra o escritor. São águas passadas e Cony faz questão de não ser nostálgico. Fala dessa característica quase como um defeito, embora reconheça que caia nela em suas crônicas. Coisas de quem vive de seus escritos desde 1952, quando foi trabalhar com seu pai no Jornal do Brasil. Desde então, só viveu da palavra, embora em vários ramos. Foi um dos poucos brasileiros que primeiro fizeram fama como escritor e para só firmar seu nome no jornalismo, como cronista do jornal Correio da Manhã e depois da revista Manchete, sem nunca ter passado um dia sem ter um escrito seu públicado na imprensa. Sua carreira de escritor, no entanto, teve um grande hiato de 18 anos. Depois de oito romances em menos de uma década (de 1958 a 1967), só foi lançar o título seguinte, o best-seller Quase Memória em 1995, embora a produção de contos, adaptações de clássicos da literatura e, evidentemente, crônicas não tivesse parado. "Esse foi um período em que eu estava muito feliz e quem se sente assim não produz nada", confessa Cony. "Depois, por vários motivos, inclusive a maturidade, senti necessidade de voltar a escrever." O que ele chama de "voltar a escrever" é dedicar-se a um romance, coisa que ele nunca fez por encomenda, ao contrário dos outros escritos. Não por considerar este motivo menor, pelo contrário. "As grandes obras de arte, da Capela Sistina às óperas de Mozart, foram feitas por encomenda", lembra ele que se orgulha de ser rápido na produção de textos. "Geralmente, levo um mês para escrever um romance?. E leva muito menos tempo para uma crônica, que considera um trabalho preso ao contidiano e mais variado. "Quando escrevo para o programa da Ana Maria Braga, não posso usar a mesma linguagem nem falar dos mesmos assuntos que na Folha de São Paulo ou na Internet", ensina ele. "E quando leio crônicas antigas, vejo que elas são totalmente datadas, ao contrário do que acontece com os romances." Cony gosta também de estabelecer diferenças entre os dois gêneros, deixando claro que não estabelecem uma hierarquia. "O cronista é como um peixe no aquário, pois tem toda a visibilidade do mundo", teoriza. "Já o romance faz do escritor um peixe no oceano, que não é visto por ninguém, mas tem toda aquela imensidão para explorar."

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