
16 de maio de 2019 | 04h30
A foto é do Bolsonaro, rindo. Ele e os que o cercam estão festejando a assinatura do decreto que libera a importação e amplia o mercado de armas no Brasil. Bolsonaro tem todo direito de estar rindo na foto. O decreto ainda não passou pelo Congresso, receberá adendos, talvez poucas das cláusulas que hoje alegram o presidente sobrevivam. Mas as relações do Planalto com o Legislativo começaram mal, o governo recém-inaugurado já sente um cheiro de rebeldia no ar, e qualquer vitória – mesmo precária – é bem-vinda. Ainda por cima, mexer com a acessibilidade das armas foi uma das promessas mais ressonantes da campanha do Bolsonaro.
Ele também pode estar rindo porque, supostamente, tem a massa com ele.
Nas fotos da assinatura do projeto das armas, muitos dos presentes aparecem fazendo o gesto que se tornou uma espécie de sinal do movimento, o dedo indicador estendido e o dedão levantado, formando o “L” de Lula Livre. Não, bobagem. Formando o símbolo de uma nação armada, inclusive com armas como metralhadoras para acertar bandido, ou presumível bandido, de cima, sem risco para o governador.
Quase ao mesmo momento em que os “Ls” eram cerimoniosamente sacados no Brasil, no Estado do Colorado, Estados Unidos, outra escola era atacada, com vítimas infantojuvenis, como já é tétrica rotina naquele país. Reinaugura-se lá outra discussão sobre como controlar a venda e o uso criminoso de armas por nenhuma outra razão senão o prazer de matar. É um debate sem fim que se repete a cada novo massacre. Organizações como a National Rifle Association, que representam a indústria de armamentos, têm conseguido impedir que o controle tenha consequência há muitos anos e milhares de mortos. Bolsonaro deve convidar a NRA para seminários, se o seu sonho se realizar.
A abrangência do plano do Moro para as armas era menor e menos demente. Por isso o Moro anda com essa cara de o que eu estou fazendo aqui, meu Deus?
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