Consumir cultura melhora a qualidade de vida durante a pandemia, aponta pesquisa

Levantamento do Itaú Cultural e do Datafolha mostra ainda que durante o isolamento social ouvir música foi a atividade preferida do brasileiro

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Por Maria Fernanda Rodrigues
Atualização:

Na pandemia, os brasileiros que usaram a internet para consumir cultura ouviram mais música na rede (84%) do que assistiram a filmes e séries (73%) e a shows (60%), leram livro digital (38%), fizeram cursos livres (38%), jogaram jogos eletrônicos (34%), acompanharam webinars (32%), fizeram atividades infantis (28%), ouviram podcasts (26%), viram espetáculos de teatro (21%) e fizeram visitas virtuais a museus e exposições (17%). Os dados integram uma pesquisa realizada pelo Itaú Cultural e Datafolha em setembro e foram revelados nesta terça-feira, 20.

O levantamento, cujo objetivo foi obter informações sobre o consumo de atividades culturais no ambiente digital durante o período de isolamento social, ouviu, por telefone, 1.521 pessoas entre 16 e 65 anos - 42% nas regiões metropolitanas e 58% em cidades do interior. 57% dos entrevistados disseram que passaram a usar mais a internet nesses últimos meses. Para 36%, nada mudou no que diz respeito à frequência de acesso. Por outro lado, 7% dos entrevistados disseram ter reduzido as atividades virtuais. 71% afirmaram que usam a internet todos os dias e 29% nunca acessam ou acessam de vez em quando. Um dado preocupante: 7% dos entrevistados não têm acesso à internet. A região Norte é a mais desconectada, com 42% respondendo que não usam ou usam pouco a internet. E 90% dos acessos são pelo telefone.

Orquestra e coro do Metropolitan cantam trecho da ópera 'Nabucco' e público acompanha de casa durante a pandemia Foto: Reprodução Twitter

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Quando tudo isso passar e pudermos retomar a vida com mais segurança, os shows online já não devem despertar tanto o interesse dos brasileiros - a vontade de acompanhar esse tipo de programação cai de 60% para 53%. Ver filmes e séries também registra ligeira queda - de 73% para 69%. 

Vale ressaltar que o consumo de atividades culturais na internet é maior entre as pessoas que já costumavam ir a cinemas, teatros, museus, shows, etc. Quem foi ao cinema nos 12 meses anteriores à pandemia, por exemplo, vê mais filmes e séries na web (87%) do que a média (73%). Quem foi a shows vê mais shows online do que a média (72% contra 60%).

Mas tem um tipo de atividade que online que pode continuar tendo espaço quando as programações presenciais forem retomadas. 57% dos brasileiros disseram que gostariam de continuar acompanhando programas ao vivo sobre arte, atualidades e ideias com artistas e pensadores. Ainda neste quesito, 48% disseram que têm interesse em vídeos com dicas para produzir arte, 47% em visitas online a exposição e outros 47% em oficinas para crianças. Na sequência, aparecem: ver vídeos que ensinam sobre arte (41%), aulas de danças gravadas (39%), participar de projetos artísticos guiados ao vivo (37%), ouvir conversas gravadas sobre música (32%) e acompanhar aulas de teatro gravadas (28%). 20% dos que responderam à pesquisa não têm interesse em nada disso.

De acordo com Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural, a ideia de ir a campo foi entender como se deu esse consumo de produtos culturais no ambiente virtual e, com isso, ajudar a identificar o que as instituições culturais podem continuar oferecendo no pós-pandemia, num formato híbrido. 

A democratização do acesso à cultura durante a pandemia foi destacada por 67% dos entrevistados. 

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A pesquisa também avaliou o impacto do consumo de cultura para a vida desses brasileiros isolados. 54% disseram que fazer algum tipo de atividade cultural ajudou a diminuir a sensação de solidão e 45% creditaram o fato de estarem menos estressados e ansiosos a essas atividades. Para 44% dos entrevistados, consumir cultura melhorou a qualidade de vida na pandemia. E para 58%, isso ajudou a melhorar o relacionamento com outras pessoas.

"Com essas poucas perguntas, comprovamos que a arte e a cultura podem cumprir um papel de acolhimento", destacou Saron, que comentou ainda sobre o legado do coronavírus também para a saúde mental da população. 

Por falar em outras pessoas, 81% dos entrevistados também usaram a internet para conversar e se confraternizar com amigos e familiares. A internet foi usada ainda para participar de cultos e atividades religiosas (48%), acompanhar atividades escolares com os filhos (39%), fazer doações e atividades voluntárias (35%), acompanhar aula do colégio ou faculdade (34%), meditar (23%) e consultar médicos (19%).

Este é o segundo levantamento feito pelo Itaú Cultural e Datafolha. No início do mês, a primeira pesquisa apontou que 66% dos brasileiros querem voltar às atividades culturais.

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