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Conheça os poemas de Hilda Hilst

Por Agencia Estado
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Decidida a não mais escrever, a escritora revela um fascínio pela imortalidade e dedica-se à leitura de clássicos e de textos metafísicos. Em sua carreira literária, ela se dedicou tanto à prosa quanto à poesia. Hás de viver um tempo, morte minha Como se fosse o tempo do viver. E caratonhas, fogos-fátuos, foices Hão de reverdecer em azul e ocre E banhado de luz volto a nascer E nunca mais o sangue em nossos corpos Só luz, entropia e o riso deslavado De não ser. (Estar Sendo/Ter Sido) Aflição de ser eu e não ser outra. Aflição de não ser, amor, aquela Que muitas filhas te deu, casou donzela E à noite se prepara e adivinha Objeto de amor, atenta e bela. Aflição de não ser a grande ilha Que te retém e não te desespera (A noite como fera se avizinha). Aflição de ser água em meio à terra E ter a face conturbada e móvel. E a um tempo só múltipla e imóvel Não saber se se ausenta ou se te espera. Aflição de te amar, se te comove. E sendo água, amor, querer ser terra (Do Amor) Me cobrirão de estopa Junco, palha. Farão de minhas canções Um oco, anônima mortalha E eu continuarei buscando O frêmito da palavra. E continuarei Ainda que os teus passos De cobalto Estrôncio Patas hirtas Devam me preceder. Em alguma parte Monte, serrado, vastidão E nada. Eu estarei ali Com minha canção de sal. (Da Morte. Odes Mínimas)

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