
09 de dezembro de 2011 | 03h08
Há algo de especial no cinema de Eduardo Coutinho, e não tem nada a ver com essas convenções idiotas que estabeleceram Cabra Marcado para Morrer como maior documentário do cinema brasileiro. Ninguém mais pensa o filme, ninguém mais o repensa, o que é mais importante. O maior documentário pode ser muito bem, pela riqueza e complexidade, o Santiago de João Moreira Salles, que tem mais - não tenhamos medo da palavra - "camadas". Mas isso, claro, não diminui o gênio de Coutinho nem a sua extraordinária capacidade de invadir a privacidade das pessoas.
Há um mistério Coutinho e é justamente essa capacidade de desarmar as pessoas, de deixá-las à vontade para que elas se abram. Muita gente não gosta tanto de As Canções, e daí? De novo, as pessoas abrem seu coração, seus sentimentos, sua intimidade. Coutinho, há anos (décadas?), não precisa provar mais nada, mas o mérito do novo filme é que, mais uma vez, ele nos confronta com o outro.
Esse outro nunca é exatamente o que esperamos que seja, mas uma pessoa que canta aqui, outra que conta uma história ali, vão tecendo uma rede de sentimentos e, no limite, é possível se projetar em um, em outro. O mais elementar dos mecanismos (psicanalíticos?) do cinema é a chamada "identificação projetiva". Mas digamos que você não queira se identificar com os personagens de As Canções. Mesmo assim, será difícil deixar de reconhecer a honestidade do autor e a sinceridade dos depoimentos. Coutinho conseguiu, em seu novo filme, contar uma historia sentimental dos brasileiros. Roberto Carlos, o "rei", deveria se ajoelhar aos pés de Coutinho. Roberto Farias, um diretor respeitável, fez três ficções com ele, quando o mito ainda se construía. Coutinho, com um documentário, fez o filme definitivo para mostrar que Roberto, mais do que ninguém, fornece a trilha de nossos amores. "Eu tenho tanto/pra te falar/mas com palavras, não sei dizer…" Grande Roberto, enorme Coutinho.
Crítica: Luiz Carlos Merten
JJJJ ÓTIMO
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