Conflito entre o novo e o velho

Longa Balança Mas Não Cai, de Leonardo Barcelos, abre a mostra de Tiradentes

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Por Luiz Carlos Merten e TIRADENTES
Atualização:

Foram-se as chuvas que causaram estragos aqui na cidade histórica de Minas e a previsão é de sol, durante toda a semana. A Mostra de Tiradentes merece. Nos últimos anos, as chuvaradas têm prejudicado em especial as sessões mais populares do Cine-Praça. No Cine-Tenda, passam os filmes da Mostra Aurora. São curtas e longas, com diferentes curadorias, que abrem a janela para os novos autores do cinema brasileiro. Tiradentes é a sua vitrine e, não por acaso, aqui estão olheiros de importantes seções paralelas de festivais como Cannes, Veneza, etc.Os curtas de segunda à noite teriam - talvez - provocado escândalo na praça. Na tenda, fechada - e com impropriedade controlada -, algumas pessoas não aguentaram as cenas de homossexualismo (quase) explícito de Na Sua Companhia, de Marcelo Caetano. O filme revela imagens de uma São Paulo que muita gente ignora (e preferiria continuar ignorando), situada entre a Praça da República e o Largo do Arouche. Uma São Paulo gay que o diretor já havia abordado em Bailão e à qual volta agora com samba e outros ritmos afros. O cinema de Marcelo Caetano não é para todos os gostos - ele mostra, sem elaborar necessariamente um discurso -, mas havia gente defendendo a divulgação e o conhecimento dessas imagens que saem do gueto.É mais do que se pode dizer de Jiboia, o curta de Rafael Lessa que, exibido na sequência, prosseguiu com a temática gay de O Velho e o Novo, de Daniel Caetano, só que agora no feminino. Uma cabeleireira (coroa) se envolve com garota, por sinal, a filha da dona do instituto de beleza em que trabalha. O Velho e o Novo olha, observa uma relação sem contar propriamente uma história. Jiboia conta e a história é meio over, ou as atrizes é que são. Os curtas da série Foco - haveria outra seleção, sob a mesma bandeira, ontem à noite - seguiram-se ao longa que inaugurou a Mostra Aurora de 2012, Balança Mas Não Cai.O título é o de um velho humorístico - dos anos 1950 - que fez história no rádio brasileiro (e a música de abertura do programa foi incorporada à trilha) e depois na TV. Só que o balança mas não cai, no caso, é um edifício do centro de Belo Horizonte. Construído nos anos 1940, foi embargado nos 60, sob a denúncia de que ameaçava ruir. O diretor Leonardo Barcelos leva antigos moradores para revisitar o local, que, no começo, está completamente degradado. Só que, em vez de ser implodido, o Tupis está sendo remodelado. Se o título não fosse tão adequado, o documentário de Barcelos poderia tomar emprestado o título do curta de Daniel. Pois é do conflito entre o novo e o velho que se trata.Os antigos moradores lembram o que, para alguns, foi o melhor período de suas vidas. Os hoje cidadãos respeitáveis formavam, pelo teor dos depoimentos, um clube dos cafajestes. Balança Mas Não Cai é uma produção da empresa mineira Teia. O diretor Barcelos veio da videoarte e o filme tem momentos que são pura investigação audiovisual. Barcelos imprime imagens belíssimas - montadas por Marina Meliande - ao som de uma canção na voz de Yma Sumac, cantora peruana que foi um ícone na época do apogeu do Tupis. Ele realiza prodigiosos movimentos de câmera ao redor do prédio. No final, remodelado, o Tupis continua sendo uma excrescência na paisagem de BH. É o tema (crítico) de Leonardo Barcelos.

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