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Como se fosse Morricone

Por Lauro Lisboa Garcia
Atualização:

Uma série de quesitos torna Rome surpreendente. Imerso na sonoridade retrô dos western spaghettis da década de 1960, soa como uma trilha sonora de filme feita pelo italiano Ennio Morricone, mas não é. Os autores da façanha são Danger Mouse (codinome de Brian Burton) e o italiano Daniele Luppi (autor de trilhas para cinema e TV, como a da série Sex and the City), que trabalharam cinco anos nessa ideia, dividindo as composições, os arranjos e a produção. Uma das surpresas é ter a ternurinha Norah Jones e o rascante Jack White (na foto com os produtores) dando peso e equilíbrio a esse álbum conceitual e climático. Ao estilo ambient, é bem diferente dos trabalhos mais populares de Mouse com Cee-Lo Green (os dois CDs do Gnarls Barkley), Beck (Modern Guilt) e Gorillaz (Demon Days), entre outros."É um álbum de amor, muito visual e melancólico", diz Mouse num vídeo promocional do site www.romealbum.com. Parte do CD foi gravada em Roma nos Forums Studios, de Morricone, com músicos que trabalharam com ele. As evidentes referências ao mestre italiano das trilhas para cinema, como os vocalises, coros sombrios e arranjos de cordas, estão todas ali, como a ilusão dos irresistíveis cantos de sereias. Na faixa de abertura, Theme of Rome, a dupla foi mais radicalmente fiel a Morricone, reintegrando a soprano Edda Dell"Orso, a mesma do dramático vocal de The Good, the Bad and the Ugly, de 44 anos atrás. Jack White escreveu as letras das três canções que interpreta - The Rose With the Broken Neck, Two Against One e The World - e que estão entre as mais interessantes. Norah Jones canta outras três de modo mais convencional, com destaque para Black, que teve single lançado com filme interativo em 3D.Quem não aprecia muito o estilo de Morricone deve achar o CD um tanto monótono, com predominância de baladas e temas viajandões, alguns tangendo a cafonice, como Morning Flow e Her Hollow Days. No entanto, não deixa de ser outro grande lance do mago Danger Mouse, que está produzindo o novo álbum do tedioso U2.

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