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Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

Como calcular o tempo de uma vida?

Comentários sem nenhuma base sobre guerra ou pandemia. O tempo que se perde negando a ciência

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Por Gilberto Amendola
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Como calcular o tempo de uma vida? Desconta-se o tempo do cafezinho e as intervenções desnecessárias acerca do clima. Subtraia a mensagem de WhatsApp respondida por educação. A escolha das figurinhas ou emojis também entram nessa conta. Idas ao banheiro, claro. Idas demoradas ao banheiro. Leituras de banheiro ou banhos sem consciência ambiental. Intervalos para o cigarro. Conversas entrecortadas pela fumaça.  Horários eleitorais gratuitos – não importa o partido. Discursos inflamados. O trabalho, sempre o trabalho. O trabalho e suas horas mortas. As digressões sobre a morte de algum famoso. O pôr do sol ou o cair da tarde. O barquinho que vai sabe-se lá para onde.

Pôr do sol sobre a cidade de Ascalão, em Israel. Foto: Amir Cohen / Reuters 

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A ioga ou a esteira. As horas na academia também precisam ser descontadas. Comentários sem nenhuma base sobre guerra ou pandemia. O tempo que se perde negando a ciência. Consultas ao saldo de conta corrente via aplicativo de banco – quando eles estão funcionando (ou não). Respostas negativas ao serviço de telemarketing da operadora de celular. E as dezenas de tentativas de cancelamento de algum serviço. Falar com robô é tempo perdido. As ponderações sobre o número de estrelas que um motorista de aplicativo merece. A conversa política/eleitoral com taxistas. Séries que perderam o sentido depois da primeira ou segunda temporada. A espera do delivery de pizza. Reclamar com o delivery da pizza que não chega também leva tempo. Leitura de textão em redes social e/ou problematizações subsequentes (tretas e threads). Brigas em rede social. Explicação de piadas. A contextualização de piadas. A irritação causada pela falta de interpretação de texto. A ansiedade que antecede o resultado do exame. Qualquer exame. A expectativa das férias. As próprias férias. A frustração com o fim das férias.  A expectativa do sexo, o sexo em si e o depois do sexo. Todo o sexo mais ou menos bom também entra na conta. O tempo que demora para um e-mail ser respondido. As horas de sono e de insônia. O tempo que perdemos tentando decifrar sonhos que não querem ser decifrados. E o tempo que, sob efeito de alguma coisa um pouco mais forte, você se achou ótimo. Ninguém é ótimo sempre. Faz a conta.  Quanto é que sobra? 

*Gilberto Amendola é repórter do Estadão e observador da vida urbana

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