Como a TV digital vai mudar a sua vida

A decisão sobre o modelo a ser adotado deve ficar para o ano que vem, mas as emissoras já se preparam para o impacto que a nova tecnologia deve causar aos telespectadores e anunciantes

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Muito tem-se falado na mídia sobre o advento da TV digital e o melhor sistema de transmissão terrestre de seus sinais. Mas, afinal, que benefícios concretos a digitalização da TV vai trazer aos telespectadores brasileiros? Pedir uma pizza com ajuda do controle remoto ou acompanhar aquele clássico do futebol pelo celular são alguns dos confortos prometidos. Isso se ficarmos no menu mais básico. A interatividade, aliás, deverá ser um dos grandes achados dessa era digital, não apenas como fonte de informações para o público. Acredita-se que a televisão mais interativa influencie o mercado publicitário e de negócios. "As pessoas poderão comprar imediatamente, com o controle remoto, os itens que estão vendo na tevê; é um campo de negócio que as emissoras terão de trabalhar", diz o diretor de Engenharia de Produção da Rede Globo, Nelson Faria. Para Rodrigo Leão, redator da agência de publicidade W/Brasil, apesar das mudanças, a qualidade e a criatividade da programação vão prevalecer. "Os novos recursos da TV digital permitirão que, da poltrona, se possa parar a novela no meio e comprar uma torradeira igualzinha à da protagonista", afirma. "Ora, se a novela não emocionar o telespectador, para que ele vai querer aquela torradeira sem graça?" O mesmo, segundo Leão, acontece com a propaganda. "Quando o comercial agradar muito, o público poderá interrompê-lo e se aprofundar na oferta do anunciante." Nesse universo interativo, o entretenimento e a educação também estarão em pauta. Da mesma maneira que o telespectador encontrará recursos para consultar os capítulos antigos das novelas, e dados sobre autores e diretores, ele poderá fazer simulados de vestibulares e pesquisas escolares. O gerente de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da TV Cultura, Ivan Negro Isola, cita o exemplo de uma iniciativa educacional bem-sucedida na Itália. "Lá, foi instaurada a Rai Educacional, transmitida via satélite, que só produz programas educativos e culturais", comenta. "O canal tem o projeto Mosaico, que permite aos professores de escola receberem, por meio da antena, os materiais audiovisuais que quiserem." Isso tudo sem mencionar a melhoria na qualidade de imagem. A TV digital não vai apresentar a mesma degradação do aparelho analógico, o que significa a abolição dos chuviscos, fantasmas e interferências de quaisquer gêneros. Haverá somente duas situações envolvendo a transmissão digital: ou o espectador assiste à tevê com a máxima qualidade ou não assiste nada. Ao contrário do que ocorre com o aparelho convencional que, com o mínimo de sinal, é possível ver alguma coisa, o sistema digital não exibe absolutamente nada se não houver sinal. Para Nelson Faria, da Rede Globo, a revolução gerada pelo aparelho digital pode ser comparada à transição da imagem em preto-e-branco para a colorida, na década de 70. "Vai haver uma modificação até na maneira de as pessoas assistirem à televisão, porque o formato será diferente, quase de cinema", avalia ele. "Com essa tecnologia, numa partida de futebol, você consegue acompanhar uma jogada inteira. Já na tevê convencional, é necessário fazer cortes." Há dois anos, a Globo está adaptando sua infra-estrutura para receber a tecnologia digital. Atualmente, reúne 14 câmeras de alta-definição na produção, seis nos estúdios de São Paulo e outras sete no jornalismo de esportes, além de estar equipada na pós-produção. A adaptação consumiu, até agora, cerca de U$ 10 milhões. De acordo com o grupo ABERT/SET, responsável por iniciar os estudos da transmissão digital aqui no Brasil, provavelmente ficará para o ano que vem a decisão da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) sobre qual dos três padrões existentes de transmissão terrestre o País vai adotar. Todas as emissoras estão à espera de uma resposta. A Anatel deve testar novamente os três sistemas - americano, europeu e japonês - e verificar a evolução de cada um deles. Nelson Faria defende o padrão japonês, por considerá-lo uma tecnologia mais desenvolvida. Entre as vantagens desse sistema - o último a ser desenvolvido, há dois anos, e em experimento no Japão -, Faria aponta a recepção móvel. "Você consegue receber transmissão em alta-definição no carro", garante. "No modelo europeu, existe recepção móvel, mas não simultaneamente com alta-definição. Se você quiser atingir o telespectador que está em seu veículo, só se for em standard definition." O stantard é sistema digital, mas não tem a mesma qualidade da alta-definição. Segundo Faria, essa mobilidade não existe no padrão americano. Ele acredita que as emissoras possam alternar transmissão em high e standard definition. "Determinados programas, como minisséries, justificam que os canais façam sua programação em alta-definição, já em outros horários não há necessidade de um investimento tão grande." A TV Cultura ainda não esboça uma posição final sobre o assunto, mas Ivan Isola já defende a adoção do sistema europeu que, na opinião dele, apresenta pré-requisitos mais vantajosos. "Queremos um modelo de negócio concorrencial, com múltiplas ofertas, conteúdos e serviços", diz. Para Isola, questões como "quais as possibilidades de convergência para internet e telefonia celular" devem pautar a opinião do brasileiro. "Se o Brasil optar pelo modelo europeu, que está presente em 42 países, este se tornaria um padrão mundial, já que o Mercosul e outros países estão atentos ao País." Quando a discussão envolve standard ou high definition, Ivan Isola não vê problemas em ficar com a primeira opção. Segundo ele, a maioria das pessoas não tem televisores de grandes dimensões em casa e, por isso, não perceberia se a transmissão é ou não em alta-definição. "Os europeus escolheram fazer televisão digital modelo standard. Acho que para nós esse é um bom começo", diz. "É muito melhor oferecer quantidade de informação do que ver o Lawrence da Arábia com todas as suas nuances e cores." Para começar o processo de digitalização, a emissora estatal prevê um investimento de U$ 10 milhões. Enquanto isso, tenta emplacar projetos na área, como o arquivo público digital e os laboratórios de testes no estúdio Vera Cruz. O arquivo pretende armazenar informações culturais e educacionais, acessadas inclusive pela internet e pelo telefone celular. Já os laboratórios na Vera Cruz funcionarão como estações experimentais de TV digital, onde todos os canais poderão testar idéias e linguagens. Para viabilizá-los, o canal busca parcerias. Conversor - Depois que a Anatel bater o martelo e definir o padrão de transmissão digital terrestre do Brasil, as emissoras terão um período de 18 meses para se adaptar à nova realidade. Estima-se que os negócios nesse segmento movimentem U$ 100 bilhões. Os telespectadores, no entanto, não precisarão sair correndo para comprar seus aparelhos digitais, com medo de que não consigam mais assistir à TV. Mesmo porque, eles serão bem mais caros do que os analógicos. Os aparelhos em alta-definição podem custar a partir de R$ 7 mil. Para quem não tiver condições financeiras para arcar com tamanha despesa, haverá uma solução prática. "Os atuais televisores analógicos poderão receber transmissões digitais desde que estejam conectados a conversores (set-top-boxes)", adianta o presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), Paulo Saab. No início, o conversor deve custar por volta de R$ 150,00, mas, em três anos, talvez já esteja pela metade do preço. A previsão é que os sistemas digital e analógico convivam juntas por, pelo menos, uma década.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.