Com quantos milhões se imita "Os Miseráveis"

A superprodução musical do clássico de Victor Hugo, que estréia dia 25 de abril em São Paulo, custou US$ 3,5 milhões. Tem figurino de 1.700 peças e mesa de som de 80 canais. Já foi montada em 29 países

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Por Agencia Estado
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Para retratar o drama épico da pobreza, a produção de Os Miseráveis não poupou um centavo. A conta do musical adaptado do romance de Victor Hugo, com estréia marcada para 25 de abril no reformado Teatro Paramount, chegou a US$ 3,5 milhões, quase 39 mil salários mínimos. A aposta é alta e vem lastreada no sucesso internacional do espetáculo, visto por mais de 42 milhões de pessoas em 196 cidades de 29 países. Billy Bond, diretor-geral, espera que a montagem brasileira permaneça dez anos em cartaz e coloque São Paulo no circuito mundial de superproduções musicais. Na quarta-feira à tarde, produtores e diretores reuniram a imprensa para falar do espetáculo e apresentar trechos de cena. O staff do musical no Brasil é o mesmo da montagem original: o produtor Cameron Mackintosh, o diretor Ken Caswell, o compositor Claude-Michel Schönberg e o libretista Alain Boublil. Os dois últimos foram os criadores da primeira versão, em 1980. Helzer de Abreu, diretor-residente, Nestor Raschia, diretor-técnico, e Billy Bond são os três brasileiros que completam o time. Pobreza parisiense - Com figurinos de mais de 1,7 mil peças, mesa de som com 80 canais e cem toneladas de equipamentos, Caswell, responsável pela montagem do musical em dez países, garante que não há como os brasileiros não se comoverem com a miséria descrita no romance de Hugo e recriada com grandiosidade no palco. Caswell também afirma que não desconhece a pobreza em que está mergulhada grande parte da população brasileira. ?Tenho visto muitos pobres nas ruas de São Paulo e já fui a favelas?, respondeu, após ser indagado se já tivera contato com os miseráveis locais. Ele afirmou ter estudado a situação política e social do Brasil nas primeiras semanas de ensaio. Mas o cenário de Os Miseráveis não será composto de favelas e barracos e sim recriará o ambiente das fábricas com suas hordas de operários explorados e as ruas da Paris incendiária da época da Revolução Francesa. Schönberg acredita que a identificação dos brasileiros com a história será rápida, opinião baseada na temporada argentina do musical. ?Vimos que a Argentina e o Brasil sabem muito bem o que é uma revolução. Na Inglaterra houve dificuldades para o entendimento.? São Paulo deverá ver a mesma montagem em cartaz há mais de 15 anos em Londres e Nova York. Apenas o libreto foi traduzido e adaptado para o português por Cláudio Botelho. Os autores da trilha e do libreto basearam-se na tradução inglesa do romance de Hugo para musicar o drama. O elenco que representará os miseráveis franceses no palco é formado por brasileiros. Após meses de seleção e testes, os 36 escolhidos estão ensaiando oito horas por dia. Nenhum deles é conhecido do público, embora quase todos tenham tido alguma experiência em musicais. Marcos Tumura, Saulo Vasconcelos e Alessandra Maestrina interpretam os personagens principais da peça. Nas passagens de cena apresentadas após a entrevista coletiva, o elenco mostrou desenvoltura, qualidade que será bastante exigida durante as três horas de duração do espetáculo em cima de um palco com 350 movimentos giratórios. Direção e produção são só elogios ao corpo de atores e bailarinos brasileiros. ?Eles têm uma paixão enorme em atuar e amam o que fazem?, disse Caswell. Eles terão a missão de representar uma das mais famosas histórias de Victor Hugo, publicada em 1862 e ambientada alguns anos antes da Revolução Francesa. A história começa quando Jean Valjean (Marcos Tumura) é posto em liberdade condicional e volta a roubar, só escapando das garras do policial Javert (Saulo Vasconcelos) por causa da interferência de um bispo. O ex-ladrão resolve então recomeçar sua vida e se torna um próspero industrial. Em sua fábrica, decide ajudar financeiramente uma operária, mas volta a encontrar Javert, que o persegue por ter violado a condicional. Valjean passa boa parte da história tentando ajudar a filha de Fantine (Alessandra Maestrini), menina explorada pela família Thenardier. Para assistir à versão musicada desse romance com sopros épicos, o brasileiro poderá desembolsar de R$ 10 (meia entrada no setor mais barato) até R$ 120 (inteira no setor vip platinum). Todo o custo da superprodução é da empresa mexicana Companhia Interamericana de Entretenimento, CIE, que torce para que se repita aqui o sucesso do musical no resto do mundo.

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