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Com livros eletrônicos, hoje o leitor parece menos só

Por Austin Considine
Atualização:

Muita coisa tem sido escrita sobre o poder da tecnologia de conectar as pessoas. Mas enterrar o nariz num livro sempre implica certo isolamento - com a declaração tácita de que o leitor não quer ser perturbado. Mas, e no caso de um aparelho que se assume no lugar do livro? "As pessoas estranhas sempre indagam", disse Michael Hughes, membro de Johns Hopkins Bloomberg School de Saúde Pública, em Baltimore, referindo-se ao seu iPad, que usa para ler romances e tudo o que não seja ficção. Ele garante que hoje as pessoas se aproximam mais dele do que quando levava um livro."Desconhecidos vão chegando, pedem para ver o aparelho, tocar, perguntam se gosto dele", lembra Hughes. "Isso raramente ocorre com um livro."Com os preços em queda, as vendas crescem. No mês passado, a Amazon reportou que este ano, até o momento, as vendas do Kindle triplicaram em relação a 2009. Quando a Amazon reduziu o preço do aparelho de US$ 259 para US$ 189, ela vendeu 180 livros eletrônicos para cada 100 impressos.O hábito da leitura solitária em público pode mudar com a popularidade crescente dessas leitoras. De repente, o leitor isolado no canto parece menos só. Como alguns aparelhos podem exibir livros mantendo, ao mesmo tempo, o usuário online é grande a chance de o velho rato de biblioteca estar também plugado numa conversa, segundo Paul Levinson, professor de comunicações e estudos de mídia na Fordham University.O rato de biblioteca carrega o estigma de que quando se está lendo ninguém quer se socializar. "Mas a leitora eletrônica mudou isso, já que ela está intrinsecamente conectada a sistemas maiores", observou. Para muitos, esses aparelhos são um acessório necessário. "Hoje, comprar literatura ficou interessante de novo."Para Debra Jaliman, dermatologista de Nova York, o iPad ajudou-a a acabar com o estigma de ler isolada em público. "Sempre houve certo preconceito com relação às pessoas que ficam sozinhas lendo um livro, mas já não é mais assim com o avanço da tecnologia. Estamos numa era de alta tecnologia e a facilidade e portabilidade do iPad acaba com qualquer ideia negativa associada a uma pessoa lendo um livro isolada dos outros."Nem todos concordam que os leitores de e-books tornam tornou as pessoas mais abordáveis. Na verdade, em alguns casos prevalece o oposto. Para Jenny Block, escritora e colunista de Dallas, o seu Kindle é um modo mais fácil do que um livro para afastar as pessoas. "Parece que envio a mensagem "não me perturbe"", diz ela, acrescentando que o último livro que leu no Kindle foi Sex at Dawn: The Prehistoric Origins of Modern Sexuality."E isso é bom. Ele manda este aviso: "Estou habituada a fazer isso; não fique com pena de mim." / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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