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Com a corda toda, seu nome é Aleijadinho

Livro, que será lançado hoje, esmiúça o processo de criação do trabalho mais recente do luthier Saulo Dantas-Barreto: um violoncelo inspirado no escultor

Por Lucas Nobile
Atualização:

Minúcias. Em seu ofício, Saulo arrisca inovações técnicas respeitando a tradição da luteria

 

 

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Não é de hoje que luthiers brasileiros - artesãos que criam instrumentos de cordas com caixa de ressonância - ganharam respeito e credibilidade não só no Brasil como no exterior. Mesmo que a aqui no País a luteria não seja tão difundida e não tenha criado tradição e escola, há profissionais que podem ser classificados como verdadeiros artistas, fabricando instrumentos para os melhores músicos do mundo. É o caso do pernambucano Saulo Dantas-Barreto, que teve um recorte de seu ofício retratado pela jornalista Marcia Glogowski no livro

Aleijadinho, o Violoncelo - A Luteria de Dantas-Barreto

(Alaúde, 88 págs., R$ 92), que será lançado hoje, na Livraria Cultura (Conjunto Nacional).

A obra, que ficou pronta em 2008, com edição bilíngue (português e inglês), mostra todo o processo de fabricação do violoncelo Aleijadinho, instrumento com ornamentação inspirada no escultor brasileiro, e que foi apadrinhado pelo violoncelista Antonio Meneses, respeitadíssimo no mundo inteiro e professor do conservatório de Berna, Suíça.

Há puristas que podem até torcer o nariz para os instrumentos feitos por Dantas-Barreto no que diz respeito às inovações estéticas, como o luthier já havia realizado com os violinos Floresta do Amazonas e Mata Atlântica, mas que acabam se rendendo à qualidade do resultado sonoro conseguida pelo artesão. "Eu destaco no livro que, neste aspecto, o trabalho do Saulo é mais tradicional do que parece, ele é super rígido naquela receita de criar um instrumento. O que ele cria é para potencializar o som, como a barra harmônica curva, que vemos no Aleijadinho. Ele faz a inovação técnica, mas mantém a tradição. O trabalho do Saulo ensina muita coisa aos luthiers brasileiros, que já têm sensibilidade de artistas, mas carecem da disciplina necessária para esse tipo de profissão", diz Glogowski.

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Medaglia.

Além do trabalho de Dantas-Barreto em si, como as técnicas para preservar o instrumento em caso de manutenção, a feitura da ornamentação pela técnica da marchetaria, como se fosse uma tatuagem no violoncelo, o livro - com fotos de Niels Andreas - tem prefácio do maestro Júlio Medaglia, um capítulo introdutório contextualizando a história da luteria no Brasil, e outro no fim contando a trajetória do violoncelo, instrumentos feitos anteriormente pelo luthier e curiosidades como cartas enviadas pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso a Dantas-Barreto em agradecimento ao reconhecido trabalho realizado por ele em países no exterior.

Com o livro, Marcia Glogowski, que trabalhou no

Estado

por 30 anos, não sonha apenas com uma difusão da luteria no País, mas também da música clássica como um todo. "A luteria é área desconhecida, mas que existe. A ideia é que o Aleijadinho se torne um instrumento que desperte o interesse pela música erudita para todo mundo. O objetivo do livro é também um pouco isso, o Brasil tem de ser também um berço de música erudita porque tem talento. Gostaria que o livro ajudasse a luteria a se desenvolver no Brasil, seria um sonho realizado", comenta a autora.

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