Com 4 brasileiras, Documenta 13 propõe questões como o poder e a injustiça

Evento também vai promover seminários e exposições no Afeganistão, no Egito e no Canadá

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Por Redação
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KASSEL, ALEMANHA - Parafraseando o título da Documenta 13, The dance was very frenetic, lively, rattling, clanging, rolling, contorted and lasted for a long time, a coreografia das propostas desta edição é enérgica. "A confusão é maravilhosa", disse ontem a diretora artística da mostra, a ítalo-americana Carolyn Christov-Bakargiev, em uma bem-humorada coletiva de imprensa no Kongress Palais de Kassel, na Alemanha. Ela teve quatro anos de trabalho para preparar a Documenta 13, que foi aberta ontem para convidados, vai ser inaugurada no sábado para o público e fica em cartaz até 16 de setembro. A era digital, o deslocamento, o comprometimento "no momento crítico que vivemos", a precariedade, o poder, o feminismo, o surrealismo, a injustiça de um mundo entre ricos e pobres, todas essas são questões levantadas pela curadora, "mulher e feminista", como frisou, para a concepção da exposição formada por obras de 193 criadores (dentre eles, o Brasil está representado por Anna Maria Maiolino, Maria Martins, Renata Lucas e Maria Thereza Alves). A coreografia, afirmou Carolyn Christov-Bakargiev, não poderia ser harmoniosa. "O intuito da Documenta 13 não é ler o momento histórico através da arte, mas reimaginar o mundo com o uso da ficção, da poética e da ciência", disse. Primeiramente, esta edição evento propõe uma mudança, deixa de ter apenas Kassel como sua sede (desde 1955) para ainda promover, entre 20/6 e 15/8, seminários e exposições em Cabul (Afeganistão), Cairo-Alexandria (Egito) e Banff (Canadá). O desafio de expandir a mostra ainda se refere à própria cidade alemã - os trabalhos de seus participantes ocupam, além dos tradicionais museus Fridericianum, Neue Galerie e Ottoneum (de história natural), espaços como o palácio Orangeire, o parque Karlsaue, o Museu dos Irmãos Grimm e a estação Hauptbahnhof, entre outras localidades. Entretanto, com tantas "parassimultaneidades, importa o aqui e o agora", afirmou Carolyn. Ela até usou em sua palestra uma espécie de fábula, um projeto não realizado dos artistas Guillermo Faivovich e Nicolas Goldberg para a Documenta 13, em que se cogitava como seria a colisão de um meteoro vindo da Argentina até Kassel. "Como poderia ser essa transição temporária de um objeto?", indagou ela. A mostra principal no Fridericianum, a casa tradicional das Documentas, expõe de uma maneira bem direta o conceito de coreografia frenética de contradições proposto para esta edição do evento. Os primeiros espaços nada têm de espetaculosos, pelo contrário: são salas brancas, à primeira vista, como que vazias. Pouco depois se encontra o trabalho do inglês Ryan Gander, I Need Some Meaning I Can Memorise (2012), que é apenas feito da circulação de ar, de uma "brisa gentil" sobre os espectadores - no mesmo setor, há uma obra sonora de Ceal Flyer. Até começar uma espécie de "babel" de objetos, épocas, culturas pelo restante do espaço expositivo da instituição, abrigada na Friedrichsplatz. A relação da arte e do objeto - primordial ou intrínseca - é apresentada em múltiplas formas, por camadas. Em vitrines, esculturas de princesas da tradição do Uzbequistão estão ao lado dos vasos que o pintor metafísico italiano Giorgio Morandi usava como "modelos" de suas naturezas-mortas, de objetos destruídos durante a guerra civil no Líbano, de peças de Man Ray e fotografias da década de 1930 de Lee Miller, entre elas, de artigos dos banheiros do casal Adolf Hitler/Eva Braun. "Venho de uma mãe arqueóloga", diz, em certo momento, a curadora. No Fridericianum, ainda chamam a atenção as tapeçarias modernas e políticas criadas também nos anos 30 pela sueca Hannah Ryggen. Passa-se pela ciência, em que teorias da física engendram uma série de parafernálias criadas este ano pelo austríaco Anton Zeilinger em parceria com os alunos da Universidade de Viena até se chegar a uma instalação desconcertante de Kader Attia, um gabinete de esculturas primitivas africanas e grandes bustos de homens deformados de madeira, livros, fotografias e objetos, na obra deste ano The Repair from Occident to Extra-Occidental Cultures. As Documentas ocorrem a cada cinco anos e por isso são as mais aguardadas mostras do cenário contemporâneo. Esse longo processo de concepção levanta muitas questões (nem sempre respondidas ou materializadas) e a impressão que se tem é a de que artistas estiveram em diálogo com a curadora sobre os temas desta edição. Como afirmou Carolyn, quatro motivações engendraram a Documenta 13: "Sob o cerco: Estou cercado pelo outro, sitiado por outros"; "Em retiro: Me retiro, escolho abandonar os outros, Eu durmo"; "Em estado de esperança, ou otimismo. Eu sonho, sou o tema do sonho por antecipação"; e "No palco: Estou interpretando um papel, Sou um tema no ato da reperformance."

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