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Colombianos bombásticos, pernambucano arretado

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Por Redação
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Usar sons da periferia para fazer música elaborada é um jogo arriscado que pode soar falso, mas quando dá certo, traz ao som o impulso de hits curtidos e desenvolvidos na competição natural de camelôs. Essa sabedoria das massas é a força motriz do grupo colombiano Bomba Estéreo, que fez um dos melhores shows do festival SWU, no domingo, transformando a tenda Oi em um grande baile funk com sua mistura de eletro e dub com cumbia, champeta, reggaeton e outros ritmos da América Central (a banda toca no Sesc Pompeia na quinta).A cara do grupo é a cantora Liliana Saumet, que desfere rimas invocadas e críticas sociais contundentes. "Falo sobre política. Falo sobre amor. Falo sobre as mulheres que operam as tetas e a bunda sem pensar muito na estupidez disso", disse em entrevista ao Estado depois do show. Seu estilo, assim como o da inglesa M.I.A, é calcado na escola do soundsystem. Rimas rápidas e frases repetidas - como "se no me muerdes, yo te muerdo" - formam, juntos a guitarras hipnóticas e batidas eletrônicas acompanhadas de um baterista, os loops dançantes. A base é o bum-tchi-bum dos bailes do morro, mas esse se desenvolve além das batidas esparsas para incorporar sintetizadores e outros elementos de produção. "A cumbia e a champeta são ritmos da periferia colombiana. É uma situação social parecida com a do Brasil. Os ritmos são tocados em bailes considerados perigosos pela maioria das pessoas, mas muita coisa boa acontece por lá", disse Saumet, cuja presença de palco é o elemento chave do show do Bomba Estéreo. Pequena e invocada ela saltou pelo palco e montou nos amplificadores vestida de paetê roxo, na noite de domingo. O ápice do show veio com a canção Psicodélica que com uma mistura ressonante de dub com reggaeton deu o tom balançado que dominaria o palco nos shows de Otto e Lucas Santtana, que tocaram em seguida. Otto. E eis que as atrações nacionais não param de surpreender. Anteontem, o Palco Novo Som teve Lucas Santtana e Tulipa Ruiz, que fizeram shows memoráveis. Mas o tapa na alma ficou mesmo por conta de Otto.Há discos que são bem gravados, mas que nem sempre funcionam no palco. Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos, de Otto, mostra o contrário. Depois de apresentações pegadas no Auditório Ibirapuera e no Comitê, na capital de São Paulo, era de se esperar que este show também arrebataria o público em Itu. É capaz de fazer isso em qualquer lugar.Acompanhado de sua banda quentíssima, com gente da pesada como Fernando Catatau (guitarra), Pupillo (bateria) e Bactéria (teclados), o cantor e compositor pernambucano botou a plateia para rodopiar com temas de seu disco mais recente - um dos melhores do ano - e outros mais antigos, como Legalize Low.Faltou um espaço intermediário para Otto. Os palcos principais, de fato, seriam grandes demais para o tipo de som que ele faz, mas o Oi Novo Som ficou pequeno. Lá pelas tantas, como de costume, mesmo com um frio bravo, o crooner - como ele mesmo às vezes se intitula - ficou sem camisa. Ao som de composições suas, como Crua, Saudade, Janaína, Seis Minutos e Filha, Otto rodopiava duas camisas com os braços abertos. Parecia um helicóptero com suas hélices, como Elis Regina fazia.Por volta de 22h15, ele deixou o palco com a glória merecida e, até a noite de anteontem, como a melhor atração brasileira do SWU. Mesmo assim, a organização poderia repensar os critérios para escolher artistas para uma possível próxima edição. É absolutamente louvável contar no lineup com o talento de gente como Otto, Mombojó e Los Hermanos, que já têm público cativo, mas os palcos periféricos poderiam ser aproveitados para revelar gente nova.COM REPORTAGEM DE ROBERTO NASCIMENTO E LUCAS NOBILE

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