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Coisas de Lewgoy

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Por Redação
Atualização:

Eu Eu Eu José Lewgoy é o ótimo título encontrado pelo documentarista Cláudio Kahns para o filme sobre um dos atores mais marcantes do Brasil recente. Lewgoy era mesmo egoico. Dizem os detratores (não eram poucos) que tinha apenas um assunto de predileção: ele mesmo. Daí o eu, eu, eu. Dizem também - e isto está no filme - que quando lhe jogaram na cara esse vício de linguagem, vingou-se e passou a se referir a si mesmo na terceira pessoa, como Pelé. "O Lewgoy fez isso, o Lewgoy disse aquilo." Irritados, os amigos perguntaram por que havia adotado o plural majestático. Respondeu: "Ora, vocês me criticaram dizendo que eu só falava de mim mesmo, agora me criticam porque estou falando de outro". E ponto final.Esse era o Lewgoy anedótico, com o qual talvez fosse muito difícil conviver. O Lewgoy público, vamos dizer assim, era outra coisa. Uma figura amada e conhecida do grande público. Um ator intelectual, espécime raro no Brasil. Um talento raro. Alguém que jamais assumia o papel de coadjuvante, pois sempre que entrava em cena, por mínima que fosse a sua participação, tornava-se protagonista daquele momento. Com muito material à disposição, imagens e histórias a contar, e também com uma profusão de entrevistas com colegas e amigos, Kahns reconstrói essa vida singular. Vemos também cenas pinçadas de 30 anos de trabalho na Globo e dos filmes dos quais participou.Um dos (vários) méritos do filme é captar essa figura multifacetada com ternura, mas sem ser hagiográfico, como é moda ao se tratar de pessoas famosas no Brasil. Ganha com isso a memória de Lewgoy, homem contraditório a ponto de declarar que seu maior papel no cinema foi em Ibrahim do Subúrbio, esquecendo-se da extraordinária composição de Vieira, o demagogo populista que o celebrizou em Terra em Transe, a obra-prima de Glauber Rocha. Coisas do Lewgoy. / LUIZ ZANIN ORICCHIO EU EU EU JOSÉ LEWGOYDireção: Cláudio Kahns. Gênero: Documentário (Brasil/ 2009, 92 minutos). Estreia prevista para sexta

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