02 de outubro de 2010 | 00h00
E é lá que está Clapton de novo, depois de fazer a escavação mais profunda que já fizera em seu sítio arqueológico. Seu novo álbum, Clapton, é uma viagem completa e com mais cores do que seus tributos anteriores. Mostra primeiro que não foram só Robert Johnson e Muddy Waters as pessoas que habitaram seu rádio. Clapton ouviu jazz dos anos 20 e 30 aos montes e bluesmen que o tempo engoliu ou que nunca deixou existir. A viagem de Clapton é, assim, uma revelação.
Ouça
Trechos da música Judgement Day
Travelin" Alone, um blues reto e introspectivo, gravado com aquela camada de poeira das vitrolas de 1950, é de Melvin Jackson, um cara do Texas que decidiu ser bluesman após servir no exército americano na 2.ª Guerra. Rocking Chair é balada jazz do pianista, cantor e por vezes trompetista Hoagy Carmichael, o homem que só criou peças do tamanho de Heart and Soul e Georgia on My Mind. E Judgement Day, a que mais dá vontade de sair aos pulos, é um blues cheio de gaitas e pouca guitarra que Clapton pegou de um gaitista negro chamado Snooky Pryor, morto em 2006 com o mesmo índice de popularidade que tinha quando nasceu, em 1921, no interior do Mississippi. As memórias de Clapton passam ainda por Hard Times Blues, de Lane Hardin; How Deep Is The Ocean, de Irving Berlin; e por uma versão de Autumn Leaves com altas taxas de açúcar no sangue.
Clapton nunca foi tão pouco guitarrista como aqui. Suas intervenções são raras e nunca levam ao clímax. Seu caminho foi outro. Quem aparece mais é gente como o guitarrista JJ Cale (de Cocaine), o pianista Allen Toussaint; o atual baterista de Paul McCartney, Abe Laboriel Jr.; o trompetista Wynton Marsalis; e "o cara" da nova geração chamado Doyle Bramhall II. Clapton foi até ali e já volta. Ou talvez, tomara, não volte nunca mais.
BLUES
ERIC CLAPTON
Clapton. Warner
Preço médio: R$ 32
OUÇA TAMBÉM
SENT BY ANGELS Artista: Arc Angels, banda criada por Doyle Bramhall II.
Álbum: Arc Angels (1992). Preço: (fora de catálogo, mas disponível na internet).
Encontrou algum erro? Entre em contato
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.