CineOP recupera filme mítico de Lúcio Cardoso

Sétima edição do evento apresenta 'A Mulher de Longe' que permaneceu inacabado em 1949

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Por LUIZ CARLOS MERTEN - O Estado de S.Paulo
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E o 7.º CineOP já começou - a Mostra de Cinema de Ouro Preto homenageou ontem na cidade mineira o cineasta Gustavo Dahl, que morreu em junho do ano passado, e os irmãos Roberto Farias e Reginaldo Faria. Roberto, como diretor, e Reginaldo, como ator, realizaram três filmes básicos do cinema brasileiro nos anos 1960 - Cidade Ameaçada, Assalto ao Trem Pagador e Selva Trágica -, mas o evento preferiu resgatar o polêmico Pra Frente Brasil, de 1982, sobre a máquina de repressão e tortura montada no País pelo regime militar. A mostra de cinema contemporâneo do CineOP prossegue no fim de semana apresentando amanhã A Mulher de Longe, de Luiz Carlos Lacerda. O filme recupera imagens do longa inacabado de Lúcio Cardoso. Expoente da chamada literatura psicológica, o autor pertence à geração de Otávio de Faria e Cornélio Pena. Iniciou-se com romances de recorte realista e sociológico, como Maleita e Salgueiro, mas se orientou cada vez mais para um tipo de escrita que mergulha na interioridade e complexidade do homem moderno. Dúvidas e questionamentos pessoais superpõem-se à análise da realidade. Lúcio Cardoso questiona o bem e o mal, Deus e o Diabo. Surgem as obras-primas - Mãos Vazias, que Luiz Carlos Lacerda adaptou; Inácio e Crônica da Casa Assassinada, que virou filme de Paulo César Saraceni (A Casa Assassinada). Católico confesso, Cardoso nunca fez segredo de sua homossexualidade e até a registrou em seu diário. Isso não significava que aceitasse a própria orientação sexual - ele foi sempre atormentado. Era um belo homem, com um perfil intenso e romântico. Clarice Lispector, que prosseguiu com seu realismo psicológico, foi apaixonada por ele, mas a relação permaneceu puramente platônica. Amante de cinema, Cardoso tentou a direção e, em 1949, iniciou a rodagem de A Mulher de Longe na aldeia de pescadores de Itaipu, em Niterói. O filme era dado como perdido. A descoberta de cenas - em estado precário - levaram a um trabalho de restauração, que Lacerda efetuou em parceria com o Canal Brasil. Desse material, e com base no diário do escritor, Lacerda tirou o documentário poético de 70 minutos que terá amanhã sua primeira exibição no CineOP. Realização da Universo Produção, o CineOP situa-se entre outras duas iniciativas da produtora cultural. Em janeiro, ela realiza em Tiradentes a Mostra Aurora, considerada a principal vitrine do cinema de invenção do País. Mais para o fim do ano ocorre a Mostra Cine BH, que mapeia as novas tendências do cinema brasileiro e mundial. Em junho, a Mostra de Ouro Preto privilegia o cinema de arquivo. Neste ano, o 7.º Seminário do Cinema Brasileiro promove 13 debates, diálogos audiovisuais e workshops com a participação de 45 profissionais de todo o mundo, entre eles a pesquisadora e conservadora do Texas Archive, Caroline Frick; o subdiretor de preservação de acervos da Cinemateca Nacional do México, Carlos Edgar Torres Pérez; a responsável pelo acervo de filmes da Cinemateca Nacional da Itália, Francesca Angelucci; e o crítico, ensaísta e cineasta francês Alain Bergala. O CineOP vai até segunda-feira, dia 25.

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