PUBLICIDADE

Cinemão e sua guerra contra ETs

O barulhento A Batalha de Los Angeles acirra a insegurança do público

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Poderia ser "a volta dos que não foram". Alienígenas ameaçadores têm estado em evidência desde a Guerra Fria, quando a ficção científica de Hollywood, atrelada aos interesses da Casa Branca (eram os anos do macarthismo), investiu pesado na paranoia. Os ETs chegaram a ser metamorfoseados em "vermelhos" (comunistas?) na primeira versão de Guerra dos Mundos, de Byron Haskin, de 1953. Só no começo dos anos 1980, Steven Spielberg mudou o tom e ousou criar um alienígena pacífico em E.T. - O Extraterrestre. Uma nova fornada de ETs de maus bofes se prepara agora para retomar as telas.Eles já chegaram. Na sexta-feira, estreou Invasão do Mundo - A Batalha de Los Angeles, de Jonathan Liebesman. É a primeira de uma série de ficções científicas que batem pesado no sentimento de insegurança do público. O espectador mal terá tempo de respirar e, no dia 15 (de abril), estará estreando Eu Sou o Número 4, sobre um alienígena teen em apuros na Terra. Até o fim do ano, a invasão não para. O ano que vem é 2012 e, se as previsões de Roland Emmerich estiverem certas, a última coisa que o espectador terá de se preocupar será com ameaças externas. Mesmo assim, está programado Elysium, de Neill Blomkamp, do ótimo Distrito 9, com Wagner Moura.A Batalha de Los Angeles não pode ser visto como um programa isolado, mas como uma nova tendência do cinemão. Hollywood adora os efeitos e os de A Batalha de Los Angeles são tão numerosos quanto passam a impressão de vagabundos. Como o título indica, é um filme de guerra. O sul-africano Liebesman militariza sua narrativa. O filme segue uma brigada - liderada por Aaron Eckhart - que enfrenta os ETs na base da bazuca. Como nos velhos westerns - índio bom é índio morto -, o público deve torcer por cada ET abatido. Para não correr o risco de humanização, eles não são individualizados nem despem a armadura. São máquinas de matar. Os humanos são mais vulneráveis. Morre gente feito água, com direito a lágrimas, discursos piegas e saudações à bandeira (dos Estados Unidos). Quando não estão morrendo (os extras), os humanos reagem à altura - e as brigadas de protagonistas matam.Em 2001, o ataque às torres gêmeas iniciou, em Hollywood, a uma nova onda de espionagem. Surgiu o novo espião, Jason Bourne, interpretado por Matt Damon - e a série foi formatada por Doug Lyman, que agora assina Jogo de Poder, que também estreou na sexta-feira, com Naomi Watts e Sean Penn. A ameaça terrorista, somada à crise econômica, criou um inimigo sem rosto. As intervenções não se constituem em novidades, mas se acirram. É nesse novo quadro que surge A Batalha de Los Angeles. O filme é barulhento, desagradável. Para não dizer que é completamente destituído de atrativos, tem Michelle Rodriguez, que virou cult na série Lost e ganhou aquele papel sexy em Machete, de Robert Rodriguez. Michelle faz agora a militar durona de A Batalha de Los Angeles. É ótima, mas, se a sua brigada salva a Terra, nem Michelle salva esse filme irremediavelmente medíocre. INVASÃO DO MUNDO - BATALHA DE LOS ANGELES Nome original: Battle: Los Angeles, Gênero: Ação EUA, 116 min.). Censura: 12 anos.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.