Cinelândia

Cinemas do centro iniciam recuperação e SP anuncia estatal do setor audiovisual

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Por Jotabê Medeiros
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Quando tinha 15 anos, o arquiteto Walter Makhohl costumava caminhar até os cinemas do centro de São Paulo com os amigos. Ia sempre depois de passar pelo clube. Geralmente, quando chegava ao clube de terno e gravata, já lhe perguntavam: "Vai ao Marrocos hoje, hein?". Ali só se entrava de terno e gravata.Cinquenta e cinco anos depois daquele período dourado, Makhohl, hoje setentão, voltou ao Cine Marrocos em 2012 de um jeito mais casual, de jeans e camisa polo, desta vez contratado para desenvolver o projeto básico de reforma e adequação do Edifício Cine Marrocos para ocupação da Secretaria Municipal de Educação.A ideia básica que Makhohl desenvolveu, e que foi acatada, é o plano ilustrado acima, que suprimiu a loja da Kalunga que havia entre o Cine Marrocos, o Teatro Municipal e o prédio da Votorantim. As paredes laterais do edifício Marrocos serão substituídas por vidro. A entrada do cinema (cuja sala principal foi rebaixada em mais de um metro e tornou-se adequada também para teatro, com 1,1 mil espectadores) ficou totalmente independente. No terreno ao lado, onde era a Kalunga, instalou-se uma entrada na praça, coberta por vidro, para o acesso dos serviços burocráticos.Os antigos cinemas do centro de São Paulo viveram nos últimos anos sempre na iminência de um renascimento. Mas nunca chegaram tão perto de sua ressurreição quanto agora. Desapropriados (ou em vias de) pelo poder público, os mais importantes, como o Marrocos, já têm projetos de revitalização e almejam ressurgir com o velho vigor numa nova São Paulo.A antiga Cinelândia Paulistana chegou a abrigar 30 salas no centro da capital entre as décadas de 1930 e 1950. Depois, viu essa vocação ruir silenciosamente, na mesma proporção em que a região se degradava. Mas, assim como as crises, o florescimento também é cíclico.O Cine Art Palácio, o mais antigo deles (projeto do famoso Rino Levi inaugurado em outubro de 1936 com uma sessão de Boccaccio), foi desapropriado a um custo de R$ 4,3 milhões e a Prefeitura contratou, para sua recuperação, um projeto do arquiteto Paulo Bruna, que deverá estar concluído até outubro. "Espero começar a obra ainda este ano", afirma o secretário municipal de Cultura, Juca Ferreira, que também anunciou um pacote de política audiovisual para a capital. Ferreira quer criar uma espécie de agência de fomento para funcionar como "alavanca de uma política cinematográfica" na cidade, algo nos moldes da RioFilme."Não vale a pena fazer cinema para colocar o filme na gaveta. Queremos, além da promoção e do estímulo à produção, ter a possibilidade de exibição", disse o secretário, que também já tem esboçado um plano de, além da recuperação do Art Palácio, do Ipiranga, criar 10 novas salas de exibição na periferia da cidade. Há uns entraves. O Cine Ipiranga, embora tenha tido sua área interna tombada em 2009 (o que impediu que o espaço sofresse qualquer alteração em sua arquitetura), ainda não está desapropriado. Foi decretado de Utilidade Pública pela Prefeitura, mas falta o dinheiro, cerca de R$ 4 milhões, para sacramentar a desapropriação.Alguns desses cinemas já renascem com uma nova casca, uma vocação nova. O antigo Cine Metrópole (Avenida São Luis, 187) virou a casa de shows Grand Metrópole, que receberá nesta quinta um concerto do grupo inglês The Vaccines.O Cine Marabá, o primeiro a ser recuperado, funciona normalmente, administrado pela Playarte, na Avenida Ipiranga, em frente do Cine Ipiranga. Durante a Virada Cultural, no ano passado, os outros cinemas do centro que são especializados em filmes pornô (como o Cine Windsor, na Avenida Ipiranga, e o Cine Dom José, também tombado pelo Conpresp, na Rua Dom José de Barros), passaram a mostrar filmes do gênero fantástico.Outros cinemas que também foram tombados pelo órgão são o Marabá (Avenida Ipiranga), o Metrópole (Avenida São Luís) e o Paissandu (Largo do Paiçandu). Com exceção do Marabá, que foi reformado e voltou a funcionar, os cinemas continuam fechados.

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