O tenor espanhol Plácido Domingo está completando 70 anos sem dar o menor sinal de que pretende se aposentar. No que diz respeito a cantores lírico, a teimosia em deixar os palcos costuma esbarrar nas limitações físicas da voz, que se desgasta inevitavelmente com o tempo. Domingo, no entanto, se reinventou e, deixando de lado os agudos papeis de tenor, passou a atuar como barítono. A carreira, assim, não apenas ganhou sobrevida como tem deixado públicos do mundo todo excitadíssimos: depois de papeis como Simon e Rigoletto, o que mais vem por aí?Há nesses lances recentes da vida profissional de Domingo os ecos de uma capacidade que o acompanhou em toda a carreira: saber respeitar os limites da voz na escolha do repertório, mesmo fora de seu habitat natural. Seu registro nunca foi óbvio, espontâneo, como o de Luciano Pavarotti. Faltavam-lhe notas mais altas - foi apelidado de PlaMingo, o tenor sem Si e Dó, as notas mais altas da tessitura de tenor. Mas, a cada papel que interpretou, soube imprimir uma marca extremamente pessoal, aliada ao talento de ator sobre o palco.A coletânea lançada agora pela Universal, juntando registros da Deutsche Grammophon e da Decca, The Plácido Domingo Story, conta um pouco dessa trajetória. São três discos: o primeiro e o segundo, dedicados à ópera, com registros de 1968 a 1983 e de 1983 a 2007; o terceiro, com trechos de zarzuelas (as operetas espanholas), tangos e canções napolitanas. Estão todos ali, os trechos preferidos do público, Nessun Dorma, Celeste Aida, Vesti La Giubba, Quando Le Sere al Placido e companhia. Não há material inédito, mas, sim, algumas gravações que acabaram injustamente ficando à margem de sua extensa discografia, como o recital gravado no final dos anos 70 com o maestro Carlo Maria Giulini. Ainda que entrecortada, a seleção é uma lição sobre as possibilidades expressivas da voz. TrajetóriaColetânea de três discos reúne registros feitos desde os anos 60 pelo tenor, ao lado de maestros como Carlo Maria Giulini