25 de abril de 2010 | 00h00
É o pecado do conhecimento, alegorizado no mito grego de Pandora ou na parábola cristã do Paraíso: a humanidade há de pagar por interferir tanto na natureza, por se meter a decifrá-la e dominá-la. Nem mesmo a modernidade se livrou dessa culpa, como se vê nos movimentos romântico e expressionista, no pensamento de Nietzsche ou Heidegger, nos filmes de Hollywood, Disney ou James Bond que sempre fazem do vilão um pervertido pela tecnologia, nas crônicas nostálgicas da literatura brasileira, etc. Eis o que está por trás da exaltação da "sabedoria dos povos da floresta", tão comum nesta Era Digital. Por certo, a experiência deles com plantas medicinais, por exemplo, não pode ser menosprezada. Mas pergunto: se são tão sábios, por que não inventaram o soro antiofídico?
Comentei no blog outro dia que o experimento do LHC, o acelerador de partículas na fronteira franco-suíça, do qual se esperam informações sobre o que seria a chamada matéria escura do universo, mal foi comentado por sua engenhosidade e beleza; causou antes medo ou arrogância. A natureza é tão intrincada e capciosa, tão complexa, que não precisa de crenças em forças "mágicas" para ter validade, para inspirar e ensinar. O mesmo vale para programas de TV como esse Vida, do Discovery (ou Nosso Planeta, Nossa Casa, que vi no GNT, mais pelas imagens aéreas do que pela abordagem "tudo está ligado", como se nenhuma espécie pudesse ser extinta), e livros recentes como os de Marcelo Gleiser e Fernando Reinach. Já há ali entusiasmo suficiente para não se enfadar da existência.
Conservadores, no momento preocupados em ressalvar o papa dos escândalos de pedofilia ou lotando as salas de cinema para ver a história de Chico Xavier, costumam dizer que sem religião o homem perde grandeza, se amesquinha em valores utilitários. São os mesmos que não toleram que a Teoria da Evolução de Darwin implique conclusões diferentes sobre o funcionamento e a história da natureza, porque acham que elas ofendem a humanidade, quando em realidade a põem na trama natural como nenhum dogma consegue. E tampouco entendem que o agnóstico (aquele que não crê em nada sobrenatural, nem milagres nem forças ocultas) ou o ateu (que não crê em Deus, o que não precisa significar que tenha certeza de que Ele não existe) possam querer e fazer o bem. Com as guerras tecnológicas do século 20, a demonização do sujeito "materialista" - a qual não via que nazismo e comunismo tinham fortes componentes religiosos na fixidez dos valores e na pretensão salvacionista - se reinstalou na cultura moderna.
Pode-se dizer que ler o horóscopo, por exemplo, seja inofensivo; pode-se lembrar que a maioria das pessoas acredita em religiões e nem por isso deixa de usar pílula ou camisinha para se prevenir; pode-se pensar em argumentos como os de um Jonathan Swift, Edmund Burke ou T.S. Eliot, para citar três gênios do conservadorismo, sobre o peso depositado no indivíduo, como se ele fosse tão racional assim. Mas o que não se pode é ignorar que a boa ciência é investigativa, não doutrinária, e que dela se podem extrair focos de luz insubstituíveis, como brasas nas cinzas.
DE LA MUSIQUE.
Se meu iPod tivesse apenas 50 canções, quais seriam? Ensaiei uma lista básica, para convidar os mais jovens:
Love for Sale, de Cole Porter (com Billie Holiday)
Night and Day, de Cole Porter (com Frank Sinatra)
Cheek to Cheek, de Irving Berlin (com Ella Fitzgerald e Louis Armstrong)
He Loves and She Loves, de Gershwin (com Fred Astaire)
Summertime, de Gershwin (com Janis Joplin)
My Funny Valentine, de Rodgers & Hart (com Chet Baker)
Mack the Knife, de Weill e Brecht (com Lotte Lenya)
La Vie en Rose, de Edith Piaf
O Bem do Mar, de Dorival Caymmi
Chão de Estrelas, de Orestes Barbosa
Feitiço da Vila, de Noel Rosa
Carinhoso, de Pixinguinha (com Orlando Silva)
Luz Negra, de Nelson Cavaquinho
Luar do Sertão, de Luis Gonzaga
As Rosas Não Falam, de Cartola
Mano a Mano, de Carlos Gardel
Always on My Mind (com Elvis Presley)
Stand By Me, de Ben E. King (com John Lennon)
Georgia, de Ray Charles
Manhã de Carnaval, de Luiz Bonfá e Antonio Maria (com João Gilberto)
Águas de Março, de Tom Jobim (com Tom e Elis)
Retrato em Branco e Preto, de Tom e Chico Buarque (com João)
Joana Francesa, de Chico Buarque
Beatriz, de Chico e Edu Lobo (com Milton Nascimento)
Sinal Fechado, de Paulinho da Viola
Nas Curvas da Estrada de Santos, de Roberto Carlos
Coração Vagabundo, de Caetano Veloso
Mas Que Nada, de Jorge Ben
Você, de Tim Maia
Veinte Años, de Maria Teresa Vera (com Omara Portuondo)
Maria, de Stephen Sondheim e Leonard Bernstein
A Day in the Life, dos Beatles
Simpathy for the Devil, dos Rolling Stones
Like a Rolling Stone, de Bob Dylan
Heart of Gold, de Neil Young
Space Oddity, de David Bowie
Take a Walk on the Wild Side, de Lou Reed
Let"s Get It On, de Marvin Gaye
How Can I Mend a Broken Heart, de Al Green
Bille Jean, Michael Jackson
I Wish you Were Here, do Pink Floyd
Bohemian Rhapsody, do Queen
Stairway to Heaven, do Led Zeppelin
Psycho Killer, dos Talking Heads
Hallelujah, Leonard Cohen
Alice, de Tom Waits
This House is Empty Now, de Burt Bacharach e Elvis Costello
Creep, do Radiohead
Crazy, de Gnarls Barkley
You Know I"m No Good, de Amy Winehouse
Aforismo sem juízo
Passam a infância imitando o que os adultos fazem. Adultos, não veem a hora de se livrar do que têm a fazer.
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