Cidade natal de Pavarotti lembra sua jovialidade e voz grandiosa

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Por GILLES CASTONGUAY
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A cidade natal de Luciano Pavarotti decretou três dias de luto por seu filho mais famoso, lembrado pelos moradores locais tanto pelo jeito jovial quanto pela voz lendária. Amigos e alunos lamentaram não poder cantar uma última vez com o "Maestro", como fizeram em concertos e aulas por tantos anos. "É uma perda enorme", disse o cantor lírico Francesco Marsiglia, 33 anos, que teve aulas com Pavarotti. "Eu queria ter estado com ele uma última vez, ter mostrado a ele o quanto progredi." Pavarotti também era amado nessa cidade do nordeste da Itália por nunca deixar sua fama se interpor entre ele e as pessoas comuns. O prefeito de Modena mandou hastear bandeiras a meio-pau e convidou o público a prestar seus últimos respeitos ao cantor na catedral onde seu corpo será velado, com honras de Estado, das 20h00 (horário local) desta quinta-feira até o enterro, que acontecerá às 15h00 do sábado. Algumas repartições públicas fecharam mais cedo, e outras colocaram cartazes em suas fachadas dizendo "Addio Maestro". A cidade estava tensa havia semanas, conforme ficou claro que o tenor de 71 anos iria sucumbir ao câncer pancreático que vinha combatendo havia mais de um ano. "Horas de ansiedade", dizia a manchete de um jornal local, impressa na véspera da morte de Pavarotti. "A vida de Pavarotti está chegando ao fim", dizia outra manchete. APAIXONADA Vestindo terno preto, o prefeito Giorgio Pighi transmitiu as condolências recebidas de todo o mundo à família de Pavarotti em sua residência nos arredores da cidade, pela manhã, depois de receber a notícia de sua morte, nas primeiras horas a manhã. "É uma perda enorme não apenas para a cidade, mas para todo o mundo," disse uma admiradora, chorando, diante da residência, em meio a dezenas de jornalistas. "Eu era apaixonada por ele." Com o rosto marcado por lágrimas, a cantora de ópera búlgara Raina Kabaivanska contou que Pavarotti tinha insistido em cantar com ela em outubro, como fizeram quando cantaram "Tosca" no teatro La Scala de Milão, mais de 20 anos atrás. "Ele me dizia: ''Precisamos fazer mais um último concerto, e depois disso não cantarei mais"'', ela recordou durante um intervalo na escola de música onde Pavarotti lecionava, ao lado dela. "Ele brincava assim, mas sabíamos qual era a verdade." Para mantê-lo animado, Kabaivanska o visitava em sua casa e o obrigava a cantar. A última vez em que conseguiu fazê-lo foi em julho, quando o fez cantar trechos de "Rigoletto". "Eu sempre lhe dizia ''Deus beijou suas cordas vocais"'', ela contou. Mesmo quando estava enfraquecido e sofrendo, após a cirurgia que sofreu no ano passado, disse ela, Pavarotti fazia questão de ensinar alunos em sua própria casa. "Ele ensinou até o último minuto. A música era sua vida."

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