Cidade mutante

Paulo Mendes da Rocha abre na sexta o evento 'Ideas City: São Paulo', que discute o futuro da metrópole

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Por Antonio Gonçalves Filho
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Único museu de Nova York dedicado exclusivamente à arte contemporânea, o New Museum criou há dois anos um festival bienal que inclui conferências, workshops e fóruns para troca de ideias sobre o futuro das metrópoles. Firmando parceria com o Sesc, os organizadores do festival Ideas City trazem a São Paulo, após passar por Istambul, especialistas em arquitetura e urbanismo que, a partir de amanhã, no Sesc Pompeia, vão propor soluções para o caos anunciado com a perspectiva de ocupação massiva da urbe (até 2050, mais da metade da população mundial vai morar nas grandes cidades). Quem abre o encontro internacional é o arquiteto brasileiro Paulo Mendes da Rocha, premiado como o Pritzker e homenageado pelo autor italiano Daniele Pisani no recém-lançado livro com sua obra completa, publicado pela editora GGBrasil.O diretor regional do Sesc em São Paulo, Danilo Santos de Miranda, diz que foi uma "feliz coincidência" a convergência de datas do Ideas City com a 10.ª Bienal de Arquitetura, cujo foco é justamente o papel da comunidade cultural na preservação da metrópole. Quando seus recursos estão sendo destruídos, o Ideas City, dizem seus criadores, "não quer focar no déficit, mas encorajar práticas inovadoras".Os idealizadores do fórum Ideas City acreditam que “as artes e a cultura são essenciais para a vitalidade do centro urbano, tornando-o melhor para viver, trabalhar e criar”. Essa crença está traduzida na lista de participantes da segunda conferência global promovida pelo New Museum (a primeira foi em Istambul em 2011), a começar pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha, palestrante da abertura, amanhã, no Sesc Pompeia. Se o Ideas City, como diz sua mentora Lisa Phillips, que dirige o New Museum, é um “sismógrafo para detectar sentimentos, movimentos e tendências”, ela tem em Mendes da Rocha o exemplo de um arquiteto que pensa a cidade não como palco de seus projetos, mas como memória dos vestígios que a história deixa – e que precisam ser considerados, tanto quanto o impacto que novos projetos exercem sobre a metrópole.Ao lado do premiado arquiteto brasileiro estarão outros profissionais da área que, em seus países, repensam as políticas urbanas voltando-se para soluções criativas não necessariamente vinculadas à arquitetura institucionalizada, caso de Teddy Cruz, professor da Universidade da Califórnia. Cruz não vê a cidade como um playground de privilegiados e projetos icônicos, mas um espaço democrático que abrigue os marginalizados, acreditando em sua inteligência crativa. “As favelas de Tijuana podem ensinar boa arquitetura a San Diego”, resume o arquiteto.O diretor regional do Sesc, Danilo Santos de Miranda, divide com ele a opinião de que a cidade precisa ser repensada a partir dos cidadãos, e criou um programa chamado Sampa Criativa. “Vamos recolher opiniões sobre o Plano Diretor, por exemplo, para saber como a população se posiciona a respeito do zoneamento e dos recursos da cidade.” A crença na arquitetura como aliada do processo educativo fez o Sesc investir em prédios degradados como a fábrica da Pompeia, em 1982, e, brevemente, numa velha indústria na periferia de Campo Limpo.O livro dedicado pelo italiano Daniele Pisani trata especialmente da capacidade de Paulo Mendes da Rocha de dar nova cara e uso a prédios antigos como os da Pinacoteca do Estado e o Museu Nacional de Belas Artes. Sua ligação com a cultura, aliás, fez com que ele aceitasse o desafio de projetar o Cais das Artes em Vitória, sua cidade natal. De fora, outro arquiteto participante do Ideas City, Charles Renfro, que projetou o novo Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro (leia ao lado), prova como a cultura, hoje, é a mola mestra da transformação arquitetônica das grandes cidades.O Ideas City tem vários nomes estelares entre os convidados, destacando-se a americana Eva Franch i Gilabert, que será a curadora do pavilhão americano na Bienal de Arquitetura de Veneza em 2014, o músico Arto Lindsay e a artista visual Jac Leirner. IDEAS CITY: SÃO PAULOSesc Pompeia. R. Clélia, 93.tel. 3871-7700. De 6ª a domingo, a partir das 9h. Grátis (entrada sujeita à lotação do teatro)

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