PUBLICIDADE

Ciclo repassa filmografia de Domingos Oliveira

Todas as Mulheres do Mundo, com Paulo José e Leila Diniz, abre hoje a série do Canal Brasil que trará, entre outros títulos, A Culpa e Amores

Por Agencia Estado
Atualização:

Quem fala em Todas as Mulheres do Mundo lembra de imediato de Leila Diniz, um espanto na tela e na vida, símbolo sexual definitivo dos anos 60. Esse é o filme que abre hoje o ciclo Domingos Oliveira no Canal Brasil. Era 1966, Domingos estreava na direção de longas-metragens, apresentava Leila ao mundo e reinventava a comédia romântica à brasileira. Os outros filmes do diretor que serão exibidos pelo canal, sempre às 23h30, são: Edu Coração de Ouro (27/2), As Duas Faces da Moeda (6/3), A Culpa (13/3), Teu, Tua (20/3), Vida, Vida (30/3) e Amores (3/4). Num tempo muito politizado, Todas as Mulheres do Mundo aparecia como uma exceção ao engajamento dos cineastas. Enquanto os intelectuais brasileiros procuravam meios para resistir a um regime militar recém-instaurado, Domingos resolvia examinar de perto a vida de um bon vivant carioca, interpretado por Paulo José. Um personagem típico de Truffaut, parecido com aquele vivido por Charles Denner em O Homem Que Amava as Mulheres. Só que o filme de Domingos antecede em 11 anos o de Truffaut. A base de ambos é o caráter infinito do desejo e traz à cena aquele tipo de garanhão sensível, que sabe ser impossível dormir com todas as mulheres, mas pretende pelo menos tentar. Paulo José é Paulo, que vive em plena caça até conhecer uma certa Maria Alice (Leila Diniz) e descobrir que todas as mulheres do mundo podem ser resumidas em uma só, desde que especial. A graça está na maneira como Domingos faz Paulo contar a sua história, rememorando-a para um amigo descrente e galinha. Mas o encanto também está, claro, na presença solar de Leila, com sua feminilidade, na maneira como olha, sorri e caminha. Sabe-se, ou melhor, sente-se quando um cineasta filma amorosamente uma mulher. Por isso o filme ganha em sabor quando sabemos que o casamento entre Domingos e Leila já estava encerrado e contar aquela história era para ele uma espécie de exorcismo. Como artista, Domingos inventava o final feliz que a vida real não permitira. Fez muito sucesso, que não se repetiria na mesma medida no ano seguinte, com Edu Coração de Ouro, no qual desenvolve o personagem de Paulo José, mais uma vez contracenando com Leila, mas agora não em tempo integral. Tanto Todas as Mulheres do Mundo como Edu Coração de Ouro alinham-se com o cinema nouvelle vague que se praticava então na França. Não há demérito nenhum. As influências estão aí e nenhum artista é uma ilha. Domingos não copiava; apenas punha aquela liberdade de filmar, inventada por Godard, Truffaut, Rohmer & Cia., a serviço de uma civilização tropical, que tentava encontrar algum caminho entre a opressão em matéria de política e sua irresistível vocação para o prazer. Esses filmes dizem que não era preciso "alienar-se" para ser feliz, mas foram pichados por uns e adorados por outros. Revê-los hoje é uma forma possível de alegria. Domingos Oliveira continuou a filmar durante alguns anos até se dedicar quase inteiramente à televisão e ao teatro. Depois de 20 anos de ausência das telas, voltou em 1998 com o delicioso Amores, outra vez falando do seu tema predileto - o relacionamento entre os sexos - e com a costumeira elegância e inteligência. Seu novo longa, Separações, está quase pronto e deverá ser lançado ainda este ano. Sua obra expressa à perfeição o estilo carioca de ser - no bom sentido, é claro.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.