Ciclo do CCBB faz homenagem ao cineasta Jairo Ferreira

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Por AE
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O leitor, em especial o mais jovem, tem todo o direito de perguntar quem foi Jairo Ferreira (1945-2003), homenageado por uma mostra de filmes no CCBB. Pois bem, Jairo foi um importante crítico de cinema, que trabalhou em diversos veículos da cidade, como o São Paulo Shimbun e a Folha. Além disso, foi cineasta e companheiro de estrada de um grupo de diretores alinhados sob o rótulo nem sempre aceito por eles de "cinema marginal".Jairo também escreveu um livro importante chamado "Cinema de Invenção", título feliz que define o tipo de filme que ele admirava e praticava. Um anticinema industrial, feito com poucos recursos, irreverente, desbocado e debochado. Um cinema idealmente feito na Boca do Lixo, aquele quadrilátero de ruas vizinhas à Cracolândia. Foi lá que se instalou um dos templos do cinema alternativo numa São Paulo desvairada, e ainda assim mais amena, na qual os cineastas conviviam pacificamente com as garotas de programa e criavam filmes que, vez por outra (porque não era sempre), mostravam uma criatividade autoral incrível. Saíram da Boca filmes como "Bandido da Luz Vermelha", de Rogério Sganzerla, e "Lilian M. - Relatório Confidencial", de Carlos Reichenbach.A mostra "Jairo Ferreira", com curadoria de Renato Coelho, traz toda a filmografia do homenageado, a maior parte da qual foi captada em Super-8, num tempo em que a tecnologia digital barata de hoje em dia não existia nem em delírios da ficção científica. Estão lá impressos nesse modesto celuloide, os dois longas da lavra de Jairo, o cult "Vampiro da Cinemateca", e o não menos badalado (em círculos restritos) "O Insigne-Ficante". Há também os curtas e médias como "O Guru e os Guris", "Horror Palace Hotel" e "Metamorfose Ambulante - As Aventuras de Raul Seixas na Cidade de Toth".Há também os filmes que compunham o elenco de admirações de Jairo - todos contemplados com artigos no livro "Cinema de Invenção". Desde a obra-prima absoluta do cinema brasileiro, "Limite" (1931), de Mário Peixoto, até "O Corpo Ardente" (1966), que muitos consideram a melhor contribuição de Walter Hugo Khouri para o cinema brasileiro.Mas estes são filmes reconhecidos até mesmo pelo cânone e pela crítica mainstream. Não constam, a não ser com muita liberdade, do panteão dos "malditos", escaninho do cinema que era onde Jairo trabalhava mais à vontade. Nele, não poderiam faltar o emblemático "A Margem" (1967), de Ozualdo Candeias, filme que, do título à temática, passando pelo estilo, é o manifesto completo de toda uma tendência de época. Assim como "Jardim de Guerra" (1968), de Neville D?Almeida, antes de sua fase mais comercial.Junta-se a eles uma penca de outros filmes, típicos representantes do "udigrudi" (expressão debochada devida a Glauber Rocha), tais como "A Mulher de Todos" (1969), de Rogério Sganzerla, "Meteorango Kid - O Herói Intergalático" (1969), de André Luis Oliveira, "Ritual dos Sádicos" (1969), de José Mojica Marins, "Gamal, o Delírio do Sexo" (1969), de João Batista de Andrade, "Nosferatu do Brasil" (1971), de Ivan Cardoso, e "Sagrada Família" (1970), de Sylvio Lanna, entre outros. Alguns títulos surpreendem, por exemplo, "A Lira do Delírio" (1978), de Walter Lima Jr., diretor mais afinado com o Cinema Novo. Ou o curta "Ave" (1992), do bem mais jovem Paulo Sacramento, filme aí presente por certo pelo parentesco afetivo do cineasta em seu início de carreira com a estética de escândalo dos "marginais". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.Mostra Jairo Ferreira - Hoje, 13h, "A Mulher de Todos", de Rogério Sganzerla; 15h, "Meteorango Kid", de André Luiz Oliveira; 17h, "A Margem", de Ozualdo Candeias; 19h, "Gamal, o Delírio do Sexo", de João Batista de Andrade. CCBB (Rua Álvares Penteado, 112). Telefone (011) 3113-3651. R$ 4. Até 12/2 - www.bb.com.br/cultura

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