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Ciclo de palestras une importantes nomes do teatro

Por Agencia Estado
Atualização:

Alguns dos mais importantes pensadores da cena nacional e internacional participam durante todo o mês de outubro do ciclo de palestras O Teatro e a Cidade, que começa amanhã no Centro Cultural São Paulo com conferências do filósofo Gerd Bornheim e do diretor teatral Gianni Ratto, seguidas de debate com a pláteia. Ao todo serão 12 encontros, sempre às segundas, terças e quartas, com entrada grátis. Ao final, todas as palestras serão publicadas na íntegra em um livro, assim como alguns fragmentos dos debates. O diretor teatral Sérgio Carvalho é o curador do evento, uma iniciativa do departamento de teatro, órgão subordinado à Secretaria Municipal de Cultura. Como o título indica, o ciclo vai ressaltar momentos da história do teatro nos quais essa arte esteve intrinsecamente ligada à sociedade em que estava inserida. "Quando Celso Frateschi (diretor do departamento de teatro) convidou-me para a curadoria ele apresentou essa idéia para orientar a programação do ciclo: buscar na história os momentos em que visivelmente há uma relação entre forma artística e mobilização social e política urbana. A partir daí fomos definindo os tópicos." O objetivo dos organizadores ao definir esse tema foi realizar um seminário que tivesse grande amplitude histórica e geográfica - do teatro grego à cena moderna; do teatro pós-revolucionário russo ao da grande depressão nos Estados Unidos - e ao mesmo tempo ampliar as possibilidades de aprofundamento das discussões com um recorte específico. Recorte que vai orientar, por exemplo, a discussão de amanhã - Teatro e Vida da Cidade na Grécia Clássica. "O teatro grego não é um teatro nacional, mais um teatro das cidades/estado, uma produção patrocinada pela cidade. Era uma sociedade que saía do sistema de clãs para uma nova organização urbana e isso se refletia na forma do teatro e também na dramaturgia. O tema central desse teatro era a discussão de valores, a organização social e política e até mesmo jurisdição." Esse também será o ângulo de visão sobre o teatro no renascimento, tema da próxima segunda-feira. Carvalho lembra como o tema da organização social aparece nas peças de Shakespeare. Hamlet, por exemplo, estudava num universidade na Alemanha e volta ao castelo por causa da morte do pai. Ali encontra uma Dinamarca feudal, onde crimes contra a família são vingados com a morte. Sua hesitação tem origem também em sua formação já renascentista. A escolha dos conferencistas foi conseqüência natural da opção conceitual. O palestrante do Teatro no Renascimento, Roberto Tessari, é ensaísta, professor de história do teatro da Escola do Teatro Stabile di Torino, dirigida por Luca Ronconi, e tem vários estudos publicados sobre o Renascimento e o Barroco. "A Itália é o país com maior tradição de historiografia teatral e Tessari é um dos mais reconhecidos representantes dessa tradição. Dramaturga de vários espetáculos do diretor Moacyr Góes, a historiadora Betti Rabetti fez seu mestrado sob orientação de Tessari, no Instituto di Storia dell´Arte da Università di Pisa. Ela estará ao lado dele no debate da próxima segunda. "Acho que esse seminário vai permitir uma rara visão de conjunto da história do teatro", diz Carvalho. "Ao mesmo tempo achamos importante escolher palestrantes que tivessem uma ligação viva com o pensamento atual, para não cair no historicismo absoluto. Pessoas que pudessem confrontar a experiência do passado com a cena contemporânea." Daí a escolha do norte-americano Michal Kobialka para a conferência de quarta-feira, Teatro e Sociedade na Idade Média. "Além de ser um grande estudioso do teatro medieval ele tem artigos publicados em revistas de todo o mundo sobre teatro contemporâneo europeu. Seu livro sobre Tadeusz Kantor, por exemplo, é uma obra de referência." Três outros conferencistas de grande renome internacional são o inglês Edward Bond, o norte-americano Michael Denning e o francês Jean Pierre Sarrazac. Bond é dramaturgo, poeta e ensaísta. "Ele é uma referência na Europa como pensador e, como dramaturgo, é capaz de representar através de formas poéticas questões políticas contemporâneas." Bond é autor de um livro publicado no ano passado no qual discute justamente as relações entre Teatro e Estado Hoje, tema de sua conferência. O diretor Fernando Kinas, seu companheiro de debate, encenou, no Brasil, fragmentos de sua obra. Sarrazac é dramaturgo - autor de 15 peças encenadas em vários países da Europa - e professor de dramaturgia na Universidade de Sorbonne, em Paris. Denning é um estudioso no teatro político norte-americano do período da grande depressão. "Sarrazac e Bond vêm dessa tradição de artistas pensadores e a relação que eles têm da prática da cena pode ser muito enriquecedora nesses encontros." Segundo Carvalho, a idéia foi criar um ciclo que pudesse interessar a qualquer tipo de público. Entre os ensaístas brasileiros, nomes indiscutivelmente reconhecidos pelo rigor do pensamento como Gerd Bornheim, Olgária Mattos, João Roberto Faria, Franklin de Mattos e Maria Sílvia Betti, entre outros. "O ciclo está dentro de um projeto mais amplo de formação de público e de agentes de cultura. Por isso buscamos temas partilháveis, queremos clareza, mas sem facilitação, sem barateamento do debate."

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