Cícero Dias é enterrado em Paris

Artistas, críticos, diplomatas e políticos do Brasil e da França compareceram nesta segunda-feira à missa de despedida e ao enterro do pintor Cícero Dias, em Paris

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Por Agencia Estado
Atualização:

"A beleza por ele criada em seu ateliê e que tanto nos encanta o conduz agora a Deus." Foram estas as palavras do pároco da Igreja de Notre Dame de Grâce de Passy ao celebrar a missa de corpo presente que precedeu o sepultamento do pintor Cícero Dias no cemitério de Montparnasse, no final da manhã desta segunda-feira, em Paris. Depois da missa, a esposa do artista pernambucano (falecido aos 95 anos de idade, na semana passada em Paris, onde habitava desde 1937) Raymonde, a filha, Sylvia, e os dois netos, Maxime e Charles, receberam as condolências dos amigos e das várias personalidades francesas e brasileiras presentes. Entre estas, destacavam-se os críticos de arte parisienses Philippe Dagen e Georges Raillard, os pintores Artur Pisa, Juarez Machado e Sergio Telles, o embaixador Marcos Azambuja e o representante do governador Jarbas Vasconcelos e seu assessor para assuntos de Cultura, Antonio Uchoa. Representando os ministérios franceses da Cultura e das Relações Exteriores, o embaixador Robert Richard exprimiu a "profunda consternação da França ante o desaparecimento de Cícero Dias, último dos grandes protagonistas da história do surrealismo e o primeiro e único brasileiro a participar da Escola de Paris reunindo os mestres da pintura do século 19 e 20". Neste fim de semana, os jornais, rádios e emissoras de televisão franceses retraçaram a trajetória do pintor, sublinhando os vínculos de "amizade e de cumplicidade artística" que ele desenvolveu a partir dos anos 30 em Paris com Picasso, Paul Eluard, Blaise Cendrars, Le Corbusier e outras figuras marcantes das artes e das letras no século passado. Picasso foi o padrinho de batismo de sua filha Sylvia e ambos costumavam passar férias juntos no Sul da França. Um dos mais reputados críticos de arte da França, Philippe Dagen, do Le Monde, no seu necrológio sobre pintor, não escondeu a admiração por "um Cícero que participou das maiores revoluções artísticas do século 20 sem perder o próprio tom". Com o mesmo fascínio, Dagen assinala que as criações do pintor, anteriores à sua chegada à França, já "o predestinavam ao encontro com os surrealistas". E explica: "Sua pintura era então a de um visionário onírico, plena de leveza e indiferente tanto à lógica quanto ao realismo".

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