Christiane Jatahy dirige projeto em Frankfurt sobre os limites entre público e privado

Estreia faz parte da programação brasileira na Feira do Livro

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Por Frankfurt
Atualização:

Romper fronteiras artísticas sempre foi um desafio para a encenadora Christiane Jatahy. Seu trabalho para o palco (Corte Seco, Julia) não se encaixa na simples denominação de “peça teatral”, uma vez que dialoga especialmente com as técnicas do cinema, de modo que a fusão resulta em algo híbrido, mas extremamente consistente. Se naquelas duas obras conquistou plateias internacionais (especialmente comJulia, aclamada no mês passado em Paris), Christiane prepara-se para seu mais audacioso projeto: Utopia.Doc, cuja segunda parte estreia quarta, 9, em Frankfurt, como parte da programação brasileira na Feira do Livro, cuja abertura oficial acontece nesta terça, 8.

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“Agora, quero discutir utopia, ideias, desejos e, especialmente, o limite entre o público e o privado”, disse ela ao Estado, no domingo, no Mousonturm, que abriga não só seu projeto como também o de Felipe Hirsch, Puzzle. Dois artistas que incitam a plateia a pensar. E ambos com projetos com forte cunho político.

Utopia.Doc começou a ser rascunhado em Londres, no ano passado, quando 15 moradores da cidade interagiram com 30 artistas brasileiros. Era o embrião do projeto que começou a nascer de fato há dois meses em Paris. O ponto de partida é o mesmo: Christiane e sua equipe contatam diversas pessoas que possam se interessar pelo projeto. A condição é responder a perguntas que pedem para narrar sua história de vida, sua ideia de utopia e, principalmente, em qual lugar do mundo aquela pessoa gostaria de estar no momento.

Proposta aceita, o morador (que tanto pode ser um nativo do país como um estrangeiro) escreve uma carta de cunho pessoal sobre a própria trajetória. “É esse material que vai receber uma resposta artística”, explica a diretora, ou seja, vai inspirar um criador especialmente convidado a desenvolver um novo trabalho. Todo o processo é filmado, desde a leitura oral da carta por esse artista até a concepção e a entrega da resposta ao morador, que ouve, em sua casa, aquele mesmo criador lendo o próprio trabalho.

Em Paris, o projeto provocou distintas emoções. Como a de um imigrante do Mali que, por não ter um lar próprio, foi surpreendido pela produção, que criou uma casa cenográfica, com panos simulando paredes, no parque de sua preferência. “Sentamos no que seria a sala, servimos chá e começamos uma conversa sobre passado e expectativa de futuro”, lembra Christiane. “Até então desconfiado, o rapaz confessou que aquela foi a primeira vez em que se sentiu em casa, mesmo distante.”

Em Frankfurt, começou a segunda etapa. E, se em Paris o trabalho de construção foi basicamente realizado por três atrizes que acompanham todas as fases do projeto, em Frankfurt, por conta da Feira do Livro, a criação ficou por conta de escritores. Christiane conseguiu a adesão de nove participantes, entre eles, João Paulo Cuenca, Carola Saavedra e André Sant’Anna. Todos receberam cartas de moradores (originários e imigrantes) que inspirariam uma resposta artística.

Novamente, o resultado foi surpreendente. A escritora Paloma Vidal, por exemplo, arrancou lágrimas de uma moça que se emocionou com a própria história. Como tudo foi filmado, o resultado será apresentado a partir de amanhã em cinco telas que revelarão o processo criativo.

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A próxima etapa de Utopia.Doc acontecerá no próximo mês, em São Paulo, no Sesc Santo Amaro. “Aqui, vai acontecer o contrário, ou seja, a realidade vai ser inserida na ficção”, conta Christiane, que vai pedir para um morador contar sua história para outro e, em seguida, vai ouvir o resultado. “Espero unir um palestino com um judeu”, conta. “No fim, todos revelam desejos semelhantes, comprovando que muitas diferenças são criadas sem razão.” E, em 2014, acontece outra etapa do projeto, com a peça/filme E Se Elas Fossem para Moscou?, inspirada no clássico As Três Irmãs, de Chekhov.

RODAPÉ

DivulgaçãoAs principais estações do metrô de Frankfurt trazem informações sobre a programação de eventos envolvendo brasileiros. Há especial atenção para Ignácio de Loyola Brandão (que fez uma palestra em um restaurante da estação de trem, no domingo) e João Ubaldo Ribeiro, cronistas do Caderno 2, que viveram no país durante uma temporada.

AberturaAcontece nesta terça, 8, a partir das 17 h (no Brasil, ao meio-dia), a cerimônia de abertura da 65ª Feira do Livro. Pelo Brasil, vão discursar a ministra Marta Suplicy, seguida dos escritores Ana Maria Machado (representando a Academia Brasileira de Letras) e Luiz Ruffato. Logo depois, será oficialmente apresentado o pavilhão brasileiro.

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