Chiquinha Gonzaga abriu alas em 1901

O livro 100 Anos de Carnaval no Rio de Janeiro, de Haroldo Costa, conta como Chiquinha Gonzaga levou a música de carnaval para a rua, em 1901, ao compor a marcha Ô Abre Alas, para o cordão Rosa de Ouro, que saía num subúrbio carioca

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

O livro 100 Anos de Carnaval no Rio de Janeiro, de Haroldo Costa, lançado esta semana, conta como surgiu a música de carnaval (a primeira foi aquela que homenageou Zé Pereira, na peça Os Bombeiros de Nanterre) e como Chiquinha Gonzaga levou a música de carnaval para a rua, em 1901, ao compor a marcha Ô Abre Alas, para o cordão Rosa de Ouro, que saía num subúrbio. Recorda que Mamãe eu Quero, a mais conhecida de todas, quase foi rejeitada por Carmem Miranda, pois ninguém acreditava numa marcha curta e com letra de tamanho nonsense. Na era pré-rádio, ou seja, nas primeiras décadas do século passado, era na festa de Nossa Senhora da Penha, cuja igreja domina uma colina da zona norte carioca, que compositores como Braguinha, Pixinguinha, João da Baiana, Donga e Noel Rosa lançavam suas músicas, tentando ganhar o gosto popular. O livro fala também das grandes sociedades e dos ranchos agremiações que precederam as escolas de samba e decaíram à medida que estas iam recebendo agregados das classes média e alta. Eram grupos que abordavam temas de cunho político. Ainda no século 19, costumavam arrecadar dinheiro para comprar a alforria de escravos e, já no século passado, tentavam globalizar-se. Um dos mais famosos, o Fenianos, homenageava o exército católico irlandês, que combatia o domínio inglês. Nos anos 60, as sociedades e os ranchos foram perdendo força e acabaram, por falta de público e de foliões. O leitor exigente vai sentir falta de dados mais alentados sobre as escolas de samba. Realmente, Haroldo Costa não se detém muito no assunto, embora o 21.º capítulo, quase um apêndice, seja uma preciosa relação de todos os desfiles já feitos, desde 1932, quando começaram a ser competitivos, com a classificação das escolas até 2000. Na classificação, predominam três agremiações, que estão na ativa até hoje. A Portela teve 17 campeonatos, seguida pela Mangueira, com 12, e o Império Serrano com nove. Escolas grandes e inovadoras como a Beija-Flor de Nilópolis e a Mocidade Independente de Padre Miguel só vão aparecer nos anos 70. "Não me estendi nas escolas de samba porque existe uma extensa bibliografia sobre o assunto. O Sérgio Cabral, o Hiran Araújo e eu mesmo já escrevemos bastante sobre sua história, e não fazia sentido repetir", justifica Haroldo Costa. Mas ele não nega a importância dessas agremiações para as culturas carioca e brasileira: "As escolas de samba têm dois momentos distintos. Um é o desfile no Sambódromo, que é muito rápido porque o tempo é curto e muita gente participa. Outra coisa muito diferente é a convivência comunitária que as escolas de samba proporcionam. Em alguns bairros, são o ponto de convergência da população, que vive em função delas, seja como meio de sustento, seja como diversão." Haroldo Costa arrisca até comentário sobre a diferença entre as escolas de samba cariocas e paulistas. "A batida é diferente, porque a história das pessoas que fazem o desfile é diversa. Aqui no Rio, os ritmistas vieram dos centros de candomblé e trouxeram seus ritmos mais balançados para as baterias das escolas de samba", teoriza. "Em SãoPaulo, o folclore é outro, sem a influência religiosa, e a batida nos parecia muito dura, sem graça. Mas é bom esclarecer que esse é um ponto de vista; não significa que nós estamos certos e os paulistas errados - ou vice-versa. Até porque, nos últimos anos, eles saem nas nossas escolas e nós vamos lá fazer o carnaval deles."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.