18 de abril de 2012 | 03h09
O eletroforró que se cuide. Bem parecia, diante da escalação de uma Cláudia Abreu para o papel, que Chayenne seria uma propaganda para o gênero consagrado por Gaby Amarantos e o reinado do tecnobrega. Propaganda do avesso, só se for. Na novela que estreou anteontem na Globo, a atriz já nos convence de cara que é de fato uma popstar, assim como Ricardo Tozzi no tipo sertanejo romântico. A questão é que ela é uma megera com requintes de quem perdeu o bonde da história e continuou a tratar empregada doméstica como escrava. Chayenne joga uma tigela de sopa de cenoura na funcionária (Thaís Araújo) e desfila sobre ela todo tipo de xingamento.
Lá está Cheias de Charme, folhetim das 7 da Globo, a cultuar o papel que hoje cabe às domésticas na nova economia nacional. Mulheres esclarecidas, conhecedoras de seus direitos e profissionais cada vez mais raras. É um painel disposto a seduzir a emergente classe C, não no sentido de lhe mastigar todo o script, como quem subestima seu alcance intelectual, mas de celebrar justamente seu crescimento. Ponto para a Globo.
Mas o mundinho de Cheias de Charme ainda é extremamente glamourizado, como quem habita o castelo de Caras. O churrasco na laje teve exposição mínima no primeiro capítulo, diante de toda a ostentação de Chayenne e de sua vizinhança no condomínio de luxo de um Rio feito cartão-postal, fotografado à exaustão em edição clipada.
Se há algum processo de desconstrução na estética do belo, digamos, isso está bem estampado no eterno galã Marcos Palmeira, surpreendente como pedreiro mal chegado ao batente. E em Jayme Matarazzo, que até outro dia parecia condenado às feições baby face, que perdeu os cachinhos e ganhou boné com aba para trás para cantar hip hop.
A abertura traz o trio de domésticas com physique du rôle de modelo, todas bonitinhas, sob o contagiante hit de Gaby Amarantos. E o texto dos estreantes Filipe Miguez e Izabel de Oliveira tem consistência. A audiência de estreia só endossa o acerto do conjunto da obra: o Ibope marcou 35 pontos de média na Grande São Paulo, mais do que qualquer capítulo da antecessora, Aquele Beijo.
Crítica: Cristina Padiglione
JJJJ ÓTIMO
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