Chega aos cinemas 'Bubble', do polêmico diretor Eytan Fox

Diretor israelense fala ao 'Estado' de seus temas, de política e do brasileiro Cao Hamburger

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Seus filmes recentes têm feito o maior sucesso em Israel. E olhem que Eytan Fox conquista o público falando de temas polêmicos - a relação íntima de dois soldados que descobrem o homossexualismo em Delicada Relação, o dilema de um agente secreto impossibilitado, moralmente, de executar a missão para a qual foi destacado em Caminhando sobre a Água, o quarteto formado por dois rapazes e uma garota israelenses e o palestino que vira amante de um dos garotos em Bubble (A Bolha).   Trailer   O primeiro já estreou por aqui, o terceiro estréia nesta sexta-feira, depois de ter sido bem-visto (e comentado) no recente Festival de Cinema Judaico de São Paulo. Eytan veio à cidade com o ator Ohad Knoller, também presente em Delicada Relação. Daqui partem para os EUA, para promover o lançamento de Bubble. Ele adora o Brasil. Sua expectativa é que Caminhando sobre a Água também tenha distribuição no País.   Acabo de chegar de Israel, onde estive como jurado do Festival do Cinema Brasileiro. Pude constatar pessoalmente que Tel-Aviv é mesmo uma bolha na qual as pessoas podem levar uma vida diferente do restante do país. Tel-Aviv é laica e a ortodoxia religiosa é muito forte em Israel.   Em primeiro lugar, quero dizer que estava muito interessado em assistir aos filmes do Festival do Cinema Brasileiro em Israel, especialmente O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias, que trata de um assunto que me interessa. Encontrei o diretor aqui em São Paulo, mas, infelizmente, sou péssimo para nomes...   É Cao Hamburger...   Conversei com o Cao, trocamos informações sobre o cinema brasileiro e o israelense e eu estou levando o DVD do filme dele, para ver com calma. Tel-Aviv tem mesmo esse perfil diferenciado. É onde residem os políticos, os artistas, onde se localizam as centrais de cinema e TV de Israel, as embaixadas... A cidade termina virando um pólo muito forte de atração para quem não quer viver segundo rígidos preceitos religiosos.   Seus filmes tratam de homossexualismo e eu fiquei surpreso ao encontrar em Tel-Aviv uma cultura gay tão forte. Os pares de gays e lésbicas circulam com toda liberdade. A propósito, você é gay ou se trata simplesmente de um tema dramático?   Sou gay, sim, e um dos mais conhecidos de Israel. Quanto a Tel-Aviv ter uma cultura homo muito forte, é por causa dessa bolha a que já me referi. É muito difícil ser gay nas pequenas cidades em que predomina a cultura religiosa. As pessoas buscam mais liberdade em Tel-Aviv, como após o Exército, no qual somos obrigados a servir, é muito comum que os jovens se atirem no mundo, tentando fugir à hierarquia e à repressão. No meu tempo, a rota de escape era o Brasil, as praias brasileiras. Hoje é a Índia, com suas religiões alternativas e as drogas.   De onde surgiu a idéia desse amante palestino que irrompe na vida de um precário triângulo israelense? Estava no meio da filmagem de Caminhando sobre a Água quando minha mãe morreu. Ela era americana. Não queria ir para Israel. Foi por amor a meu pai, mas nunca viveu conforme as regras locais. Minha mãe dedicou sua vida a tentar aproximar israelenses e palestinos. Bubble não conta a minha história, mas minha mão está presente ali dentro. Essa sua vontade de transpor culturas e religiões é uma coisa que muito me atrai.   Como é seu método de trabalho? Você improvisa durante a filmagem?   Não. Meus filmes são totalmente escritos e planejados, mas o fato de trabalhar com atores que já conheço, como Ohad Knoller, me dá liberdade ao planejar as cenas. Mesmo quando não escrevo especificamente para um ator, eu sei até onde ele poderá chegar e como fazer para apressar o caminho.   Você começa a fazer sucesso no Brasil, mas o diretor israelense mais conhecido por aqui, por causa da Mostra Internacional de Cinema São Paulo, é Amos Gitai. Em Israel, surpreendi-me ao descobrir que ele é considerado um diretor para o público externo...   Amos Gitai fez filmes de que gosto muito. Alguns eu considero fundamentais, mas em Israel acho que mais do que pelos temas é pela linguagem que o público médio tende a se afastar dele. Estive em Ramallah, nos territórios ocupados, e fiquei convencido de que a solução para o Oriente Médio é a coexistência entre dois Estados, o de Israel e um Palestino, que ainda precisa ser criado e reconhecido. Acho que meu filme de alguma forma expressa isso. Tem gente que acredita que a solução é um Estado supranacional, que abrigue as diferentes culturas e religiões. Sou mais pela coexistência entre dois Estados. Israel já tem muitas divisões internas. Os ortodoxos não aceitariam dividir seu Estado com os palestinos. Israel tem direito de existir, mas o Estado Palestino também. Isso terá de ocorrer, caso queiramos ter paz na região.

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