18 de abril de 2013 | 10h50
Mais de uma vez Esche já disse que a arte tem de ser democrática e não deve ficar confinada em galerias ou submetida às leis do mercado. Como, então, pode uma instituição como a Bienal ser um teste para recusar o poder dos galeristas e contestar a lógica desse mercado? Imaginando o mundo de outra forma e refutando o argumento de que a arte depende do capital, responde o curador. "A arte tem a capacidade de retratar o não quantificável e agradeço imensamente o voto de confiança que a Bienal deu a mim, um outsider, para propor algo novo, que depende mais da imaginação do que de outros fatores."
Esche pode estar retomando conceitos filosóficos da época de Spinoza, ao afirmar que ideologia e impulso artístico não estão divorciados como se imagina. No entanto, já esclareceu de pronto que a próxima Bienal "não terá um tema ou mesmo um leitmotif que coloquem limites à criação artística".
Será, então, uma mostra experimental? Não exatamente. Esche diz que espera equilibrar tradição e experiência, não restringindo a mostra ao pavilhão da Bienal. Durante a coletiva sobre a mostra, ele sugeriu que gostaria de montar a próxima edição em cima de um conceito algo abstrato - a capacidade de dar forma ao intangível -, estimulando artistas a interagir com comunidades locais para descobrir onde está, afinal, a alternativa para os vícios da arte contemporânea - que, como ele mesmo costuma citar em entrevistas, é uma palavra consagrada na Rússia pré-revolucionária, ligada à ideia de uma arte social e politicamente progressista. E, quando ele diz intangível, não despreza uma arte ligada ao oculto. "A arte tem algo a ver com magia, com a capacidade de transformar a matéria", argumentou, resgatando involuntariamente a máxima filosófica de Paul Klee, de que a arte torna visível o invisível.
Não se trata, contudo, de um olhar nostálgico para o passado ou de uma tentativa habermasiana de se segurar o legado da modernidade a qualquer custo. Esche não parece reverenciar Oscar Niemeyer nem o prédio que construiu para abrigar a Bienal, mencionando de passagem que a morte do arquiteto construtor de Brasília "exige necessariamente que novas forças e oportunidades se abram". Esche disse também que é necessário olhar criticamente para a modernidade e não se deslumbrar com rótulos que funcionam mais como uma fronteira para o novo do que um parâmetro para a arte contemporânea. O Tropicalismo, segundo ele, seria uma dessas barreiras, uma alfândega contra a emergência do novo.
As bienais, segundo Esche, podem funcionar como portas de entrada para artistas fora do circuito europeu e americano - o que justifica sua presença como curador em mostras além desse eixo, como a Bienal de Riwaq, na Palestina, ou a de Gwangju, na Coreia do Sul. Escher, por exemplo, acabou descobrindo nelas artistas como a tailandesa Surasi Kusolwong e o búlgaro Nedko Solakov, dois apadrinhados por ele com mostras individuais. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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