Chamas na pista do Friendly Fires

Cantor e baixista MacFarlane fala do refinado dance rock que trará ao Brasil em abril

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Por Roberto Nascimento
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O crescente sumiço de guitarra em rádios e paradas internacionais indica um desinteresse, tanto indie quanto mainstream, por bandas motorizadas a cordas e distorção. É provável que o rock puro esteja a caminho de um longo sono, assim como é provável que os que aguardam um "novo Strokes" o façam pacientemente, como fanáticos que esperam o retorno de um profeta. Mesmo assim, nem tudo que faz sucesso com a moçada dos festivais indica a morte do rock. O dance rock, irmão mais flexível do gênero, por exemplo, também teve seu auge há cinco anos, com a ascensão do dance punk e do nu rave no meado da década. Mas o híbrido ainda se vale das mesmas referências retrodirecionadas - usadas pelo montante mais interessado apenas em pop sintético - para produzir uma considerável prole de bandas que ainda despertam a atenção da juventude (e também fazem um bom show, pois como é de costume, ao vivo, um set de pop eletrônico invariavelmente carece de uma pulsação mais orgânica, produzida por guitarras, baixo e bateria). Entre estas, encontram-se Holy Ghost, Cut Copy, Klaxons, o ainda contundente Rapture e (entre outros) os rapazes ingleses do Friendly Fires, que vem ao Brasil para tocar no Lollapalooza, em abril. Antes que a máquina do hype fomentada pelos próprios integrantes exagere (já declararam ser sucessores dos Chemical Brothers e do Daft Punk), o Friendly Fires é ótima banda de dance rock, com sensibilidade aguçada para hits concisos e elegantes, tocados ao vivo em sequência acelerada que rende resenhas positivas nos festivais por onde a banda passa. Já lançaram dois discos produzidos com categoria pelo cantor e baixista Ed MacFarlane, nos quais se destaca o poder de síntese do músico ao talhar cada canção até que reste apenas o necessário: "O mais complicado é saber quando uma música está pronta", conta em entrevista ao Estado, por telefone. "Além disso, fugir da fórmula de que apenas um bom riff de guitarra e de baixo é o suficiente para carregar uma canção também é complicado. Tentamos sempre começar com outros elementos para que o foco se mantenha sobre o que é realmente importante." O homônimo disco de estreia foi lançado em setembro de 2008, e passeou pelas extremidades mais baixas do Top 50 britânico, amparado pelo boca a boca. Logo a banda foi indicada para o influente Mercury Prize, embora não tenha ganho, e consolidou a sua reputação como uma das grandes bandas de agito noturno em atividade (em um dos hits da banda, MacFarlane ordena que todos pulem na piscina). Os conselhos de produção do cantor soam com a experiência de um hábil hitmaker. Mas fazer pop nem sempre foi intuito do Friendly Fires. Em sua primeira encarnação, batizada de First Day Back, a banda formada em St. Albans começou tocando covers de hardcore e evoluiu para o experimentalismo. "Até nós fazermos 18, nossa música era tudo menos pop. Só após Photobooth, percebemos que conseguíamos escrever uma canção popular. Daí em diante resolvemos estruturar nossa música de uma maneira mais clássica e acessível."Isto, ao contrário do que os defensores da arte pura gostam de achar, não é uma transição fácil. "Foi complicado. A ideia de compor uma melodia contagiante, uma letra que rime, que diga alguma coisa - isso é bem mais difícil do que plugar uma guitarra e um sintetizador em um pedal de efeito, construir uma massa de sons lavados e dizer que a canção está pronta", explica ele. De acordo com MacFarlane, a agregação de elementos variados também é uma técnica importante para o som da banda, que vai do disco punk ao house. O músico dedica boa parte do seu tempo a escutar música. "O que estou ouvindo, hoje em dia?", pergunta. "Tanta coisa. Deixa eu pegar meu laptop que te digo... Estou ouvindo trilhas de filmes e comerciais americanos dos anos 70." Um dos singles do primeiro disco, Kiss of Life, tem uma batucada brasuca como acompanhamento. A origem do interesse surgiu no YouTube. "Procurava alguma coisa relacionada com samba. Acabei trombando com um show em uma casa noturna de Londres. Vi que o pessoal ia à loucura na pista. Aí chamei os caras para o estúdio", conta. O retorno da banda com Pala, disponível no Brasil pela gravadora LAB 344, foi recebido com mais entusiasmo pelos fãs do que crítica, mas a banda já está num nível no qual o desânimo da mídia não a impede de fazer sucesso.

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