César Tralli lança livro nos EUA

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Por Agencia Estado
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O olhar de César Tralli não se limita ao que uma câmera consegue captar. Repórter da TV Globo desde 1993, período em que, entre outras atividade, foi correspondente da emissora em Londres, ele colecionou histórias que, por um motivo ou outro, não cabiam em suas reportagens. Como os relatos humanos eram poderosos demais, Tralli decidiu utilizar um outro meio de expressão e escreveu Olhar Crônico (Editora Globo, 255 páginas, R$ 27) que, depois de ter vendido cerca de 15 mil exemplares em quatro meses, será lançado amanhã em Coconut Grove, em Miami, Estados Unidos. Correspondente, Tralli viajou pelo mundo, fazendo reportagens na Espanha, Líbano, Israel, Ucrânia, Itália, Turquia, Armênia e Portugal. E, no momento em que o câmera buscava um novo ângulo ou trocava a fita, ele observava seus personagens, em momentos descontraídos. Com isso, colecionou histórias curiosas, como a que abre o livro, Procura-se Mulher, sobre os habitantes de Villamiel, vilarejo espanhol que sofre com a falta de mulheres - as poucas que ali nascem decidem ir embora, em busca de aventuras. Mais que uma reportagem, Tralli desenvolve um estilo consagrado por escritores brasileiros, que é a crônica. Atento aos detalhes, ele narra histórias em que o silêncio, muitas vezes condenado na televisão, é a melhor forma de expressão. Observações curiosas como a viagem no Expresso Oriente, no trecho entre Veneza e Londres: apesar do requinte de um dos mais luxuosos trens do mundo, Tralli descobriu que havia de tudo, menos chuveiro. Foi obrigado, assim, a envergar um black-tie sem tomar banho. "Naquela noite, entendi por que os franceses são tão bons na arte dos perfumes", observa. Tralli é habilidoso também em desmistificar as próprias reportagens que o consagraram. Como a da menina libanesa que expelia cristais pelos olhos a um simples pedido do pai. Apesar da imagem crua captada pela câmera, a fantástica história soava como falsa. Semanas de depois, Tralli voltou ao caso, quando médicos analisaram a menina e descobriram a farsa: com extrema habilidade, ela colocava lascas de vidro entre o globo ocular e a cavidade óssea, que eram despejados à medida que movimentava corretamente a cabeça. "Tive vontade de chorar de raiva, pois também me deixei enganar pelo conto das lágrimas de cristal", confessa o repórter. Com a habilidade de quem conhece a forma mais simples e direta de se comunicar (exigência básica a um repórter, especialmente o de televisão), César Tralli revela-se também um eficiente contador de histórias, permitindo que a imaginação crie momentos que talvez nenhuma câmera consiga captar.

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