Centro Maria Antônia reúne três gerações

Confrontando as linguagens plásticas de Nelson Leirner, Élida Tessler e Dudi Maia Rosa, mostra revela muito da diversidade da arte contemporânea brasileira

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Por Agencia Estado
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O Centro Universitário Maria Antônia oferece um trio de exposições bastante interessante para quem pretende aprender um pouco mais sobre a história recente do Brasil. Não se trata de revisões de cunho histórico e coletivo, como a revisão do movimento modernista proposta recentemente por essa instituição, e sim de mostras que abordam o trabalho de três artistas de diferentes gerações, com linguagens plásticas bastante particulares, mas que, confrontados num mesmo espaço, revelam muito da diversidade da arte contemporânea brasileira. O mestre dentre eles é Nelson Leirner. Convém lembrar, no entanto, que essa mostra - curada pelo crítico Tadeu Chiarelli, autor de um livro sobre o artista - pretende jogar luz não sobre o artista que conhecemos hoje, com suas apropriações provocativas e irreverentes, mas o jovem Nelson, que ainda se debruçava sobre o abstracionismo informal. Aos poucos sua pintura vai revelando o caminho que se se seguiria depois, com a introdução de novos procedimentos, como a colagem. Também é possível ver origens de trabalhos importantes como Que Horas São Dona Cândida?, uma montagem de relógios que nada tem do teor narrativo sugerido pelo título, até que o visitante descobre a série de desenhos inéditos, de mesmo título, nos quais ele retrata o dia-a-dia íntimo com sua segunda mulher, Cândida. Ao lado da mostra didático-investigativa sobre as origens de Leirner está a sala de Dudi Maia Rosa, um dos fundadores da Escola Brasil, que dá vazão pela primeira vez ao desejo de tridimensionalidade contido em seus trabalhos mais recentes, pinturas feitas de materiais estranhos como resina e poliéster ao recriar com formas ultradimensionadas uma impressionante giganta que andou invadindo seus sonhos. Outra característica dessa mostra é a grande diversidade de trabalhos selecionados, criando um panorama vasto - mesmo que pequeno - das pesquisas cromáticas e matéricas que vem conduzindo o trabalho de Maia Rosa. Se a primeira mostra é trabalho de garimpo e a terceira é um resumo de uma rica trajetória, o terceiro apresenta ao público paulistano a pesquisa instigante da gaúcha Élida Tessler, que há anos vem desenvolvendo interessante pesquisa de aproximação entre texto e imagem, construindo potentes diálogos entre a literatura, a arte e a psicanálise. Dando continuidade à pesquisa que mostrou recentemente no Paço das Artes que tinha como elemento central a chave, ela criou uma instalação especialmente para o Centro Maria Antônia, na qual transforma uma sala em um gigantesco claviculário. São 4 mil chaves, nas quais estão escritas todos os objetos nomeados por sua mãe em listas exaustivas sobre os objetos existentes em sua casa e cartas escritas também pela mãe (um texto comovente para a filha que ainda ia nascer e uma lista de pedidos póstumos endereçados a ela e ao irmão). Mas o que está em questão não é o texto - que aliás estará ilegível -, mas sim a carga amorosa contida nesses gestos, associada ao caráter classificatório, organizado da composição, em contraste com a idéia de segredo associada de maneira direta às chaves. Élida Tessler, Dudi Maia Rosa e Nelson Leirner. De segunda a sexta, das 12 às 21 horas; sábado; domingo e feriado, das 9 às 21 horas. Centro Universitário Maria Antônia. Rua Maria Antônia, 294, São Paulo, tel. 3255-5538. Até 20/1.

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