Centro cultural guardará memória da Rocinha

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Por Agencia Estado
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Até hoje fragmentada, a memória da Rocinha e de seus 120 mil habitantes está sendo organizada e será contada num centro histórico. Localizada num ponto nobre do Rio - entre São Conrado e Gávea, zona sul -, a favela, que começou a ser habitada no fim da década de 20 e hoje é a maior do País, virou bairro sem perder suas principais características: ruelas apertadas, barracos uns por cima dos outros, falta de infra-estrutura básica e de lazer e domínio de traficantes. Para o universitário José Luiz de Sousa Lima, nascido no morro e um dos idealizadores do centro histórico, o desafio é entender o processo de crescimento da favela para desenvolver projetos que melhorem as condições de vida. O centro, que deverá ocupar um antigo casarão na Rua 1, uma das mais movimentadas da favela, vai concentrar dados estatísticos sobre sua população, coletados em pesquisas elaboradas pelo grupo de Lima, formado por outras seis pessoas. Orientados pelo Instituto Superior de Estudos da Religião (Iser) eles vão revirar os baús da favela atrás de registros de manifestações artísticas, fatos históricos, fotos e vídeos. Os criadores do centro querem expor ainda os gostos, hábitos e costumes da comunidade. O projeto inclui site na Internet, produzido com o auxílio do movimento Viva Rio. "Vamos criar um centro de referência, um banco de dados para que todos conheçam nossa história", diz o universitário, de 38 anos. Assobradado - Lima é nascido e criado na Rocinha. Sua família está no morro há 51 anos. A avó, Maria Gomes de Araújo, de 77 anos, que acompanhou o desenvolvimento do morro, é dona do primeiro barraco de dois andares construído na favela. "Quando cheguei aqui, isso era uma roça mesmo. Tinha bananeira, jabuticabeira e mangueira", lembra a popular Nhanhã, apelido pelo qual Maria é conhecida. "Agora vivemos no paraíso." O único registro que se tinha da memória do lugar já está ultrapassado. Em 1980, foi publicado o livro Varal de Lembranças - Histórias (e Causos) da Rocinha. Desde aquela época muito mudou, como diz o marceneiro Bernardino Francisco de Sousa, de 84 anos - 52 vividos na Rocinha. Vindo de Pernambuco em busca de uma vida melhor, ele chegou ao morro quando era operário numa obra no Leblon, como muitos dos pioneiros. Construiu um pequeno barraco, trabalhou anos a fio até conseguir ampliar a casa, hoje com quatro andares. "Isso aqui era um matagal só, não havia quase ninguém. A gente construía um barraco num dia e os guardas derrubavam no dia seguinte", conta. "Hoje, meus filhos, netos e bisnetos moram aqui comigo. Se existe lugar melhor no mundo, eu não conheço."

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